Juventude protagoniza encontro e debate políticas públicas no Semiárido Show 2023

Cidades Petrolina

Com uma participação massiva de jovens de diferentes cantos do Semiárido, na quinta-feira (03), foi realizado pela primeira vez, durante o Semiárido Show, o “Encontro das Juventudes do Semiárido”.

Evento que reuniu jovens com um objetivo em comum: debater os desafios e as perspectivas das políticas públicas voltadas para a juventude, no campo e na área urbana.

O Encontro teve início com uma mística realizada por jovens representantes da República do Irpaa e da Comunidade Indígena Tuxi, de Pernambuco, que ao som de maracás, munidos de cartazes e bandeiras apresentaram aos participantes cantos ancestrais e mensagens de luta que serviram para unir os participantes em um propósito coletivo.

Em seguida, a juventude mergulhou em uma série de debates e trocas de experiências, focados principalmente nas suas trajetórias pessoais e também das organizações, elencando desafios que enfrentam em suas respectivas realidades, bem como nas possibilidades de transformação através da ação conjunta e da participação ativa nas decisões que os/as afetam.

“Não tem ninguém melhor para dizer o que queremos se não formos nós. A gente tá ajudando e fortalecendo os jovens que estão na comunidade, porque a gente sabe das demandas e dos desafios que estamos enfrentando todos os dias para estarmos lá, em nossos espaços, lutando por políticas de alimentação, educação e saneamento básico”, afirmou a jovem Mariana Oliveira, integrante do Coletivo de Jovens da Região de Curaçá, Uauá e Canudos, ao relatar a atuação da juventude de sua comunidade em defesa de políticas públicas que assegurem qualidade de vida.

Um dos pontos centrais do encontro foi a mesa redonda intitulada “Juventudes do Semiárido: Desafios e Perspectivas das Políticas Públicas”, que contou com a presença de 12 lideranças jovens ligadas a comunidades indígenas, movimentos sociais, organizações populares e entidades não-governamentais.

Entre os tópicos discutidos, a necessidade de mais espaços de formação sociopolítica, a implementação de uma educação contextualizada nas escolas e a defesa da terra e do território dos povos tradicionais foram os mais enfatizados. Além de demandas específicas, como a revogação do Novo Ensino Médio e a derrubada da proposta do Marco Temporal que ameaça os povos indígenas e as Comunidades Tradicionais de Fundo e Fecho de Pasto da Bahia.

Natural de uma Comunidade Tradicional, Anselmo Ferreira, de Baixão dos Bois, em Campo Alegre de Lourdes-BA, integrante da Comissão Pastoral da Terra (CPT), defendeu que uma das estratégias está na educação contextualizada e explica que ela “motiva a seguir outros rumos, cobrar outras coisas relativas a questões de políticas públicas”.

Quem também participou da mesa foi Wyrakitã Teré, do Povo Jiripankó, que destacou a necessidade de preservar a Caatinga. “Estar neste espaço é também fazer valer a memória dos nossos ancestrais, daqueles que habitavam a mata branca, o qual o nosso povo originário deu o nome Caatinga. Hoje só se discute o Fundo Amazônia, mas será que o nosso Bioma também não está sendo destruído? Será também que os grandes empreendimentos não impactam de forma direta a Caatinga? Então é preciso que nós, enquanto juventude indígena e juventude de todos os movimentos, pensem sobre isso. É preciso que a gente também defenda o nosso bioma”. O jovem Wyrakitã atua como secretário de assuntos indígenas e quilombolas no município de Pariconha-AL e integra a Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme).

Outras questões incluíram o impacto da mineração nos territórios, o crescente adoecimento da juventude, a criação de projetos e editais que fortaleçam o trabalho das juventudes nas comunidades, assim como maior oferta de internet nas áreas rurais e a construção e participação colaborativa de políticas públicas que atendam efetivamente às demandas da juventude.

“O Estado brasileiro como um todo, regido por diversas leis, precisa entender que se vem pra nós precisa sair de nós. E eu acredito como metodologia que a gente possa alcançar, romper esses desafios e ocupar os espaços, os espaços políticos: conselhos, comissões e se organizando nas comunidades. Se a gente não ocupar os espaços, outras pessoas que muitas das vezes desconhecem a nossa realidade, vão estar falando por nós, vão estar deliberando sobre nós”, enfatizou o jovem Luiz Carlos, integrante da Articulação Fundo e Fecho de Pasto.

O encontro das juventudes do Semiárido não apenas proporcionou um espaço para o diálogo aberto, mas também convocou a juventude para ações futuras. Mensagem reforçada pela jovem Tamildes Mendes, militante do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. “O recado de hoje é que a gente consiga voltar para as nossas comunidades, territórios, grupos de jovens e que a gente possa compartilhar todas essas experiências, tudo que foi vivenciado aqui nesse espaço e em outros que participamos, mas que possa seguir sendo essa juventude rebelde, de lutar por justiça, de estudar, planejar e dizer o que a gente quer”.

Ao final do evento uma carta política, escrita a partir de todas as reivindicações apresentadas pela Juventude durante o evento, foi lida e aprovada. O documento representa uma significativa ação. A iniciativa reforçou a importância da voz jovem na definição do futuro da região semiárida, estimulando a colaboração entre diversos setores e grupos para enfrentar os desafios prementes e aproveitar as oportunidades latentes.

É evidente que a energia e a dedicação demonstradas pelas juventudes participantes do Semiárido Show continuarão a ressoar, influenciando as discussões sobre políticas públicas e impactando positivamente as comunidades e territórios que compõem essa região resiliente e diversificada. O encontro das juventudes marca um capítulo crucial no evento deste ano, pavimentando um caminho de esperança e ação coletiva para todos os envolvidos.

Ascom

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