47 anos da CPT Juazeiro: em Assembleia, trabalhadores/as celebram lutas camponesas

Cidades Juazeiro

Avaliar a caminhada junto às comunidades rurais da região da Diocese de Juazeiro em 2023 e planejar o trabalho para o próximo ano. Esse foi o objetivo da Assembleia Anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT) de Juazeiro, realizada nos dias 29 e 30 de novembro, em Carnaíba do Sertão.

O encontro, que reuniu trabalhadores/as dos municípios de Campo Alegre de Lourdes, Pilão Arcado, Remanso, Casa Nova e Sento Sé, foi marcado pela celebração dos 47 anos da CPT e por uma grande participação de jovens.

No primeiro dia de Assembleia, os/as participantes fizeram um resgate histórico da criação da CPT, na década de 1970, e das lutas camponesas da região, destacando as dores e as vitórias dos trabalhadores/as ao longo dessas décadas.

Alguns marcos foram destacados na memória, a exemplo da construção da Barragem de Sobradinho, quando mais de 72 mil pessoas foram expulsas de suas terras; a criação dos projetos de irrigação e a situação do assalariamento rural; as lutas por território nos anos 2000; as resistências dos fundos de pasto e dos assentados da reforma agrária; a luta em defesa do Velho Chico; e, no momento mais recente, o enfrentamento aos projetos minerários e de energias renováveis.

Conjuntura

Ainda na quarta-feira (29), os/as participantes da Assembleia da CPT realizaram uma análise de conjuntura. O professor da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) Adalton Marques facilitou esse momento de reflexão da realidade.

O professor provocou os/as participantes a analisarem a conjuntura do país a partir de políticas do Governo Federal que entraram em vigor este ano, como o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

O novo PAC vai contar com R$ 612 bilhões de investimentos privados e boa parte do total de recursos, que chega a R$ 1,7 trilhão, será destinada para transição energética (R$ 540 bilhões) e transportes (R$ 349,1 bilhões). Na prática, isso significa intensos investimentos em pesquisa mineral, linhas de transmissão, projetos de energias eólicas e solares, e construção de portos, ferrovias e hidrovias. Obras que afetam diretamente a população camponesa, que já vive ameaçada por esses empreendimentos.

Para Orlando Vital, da comunidade Nova Vista em Campo Alegre de Lourdes, a análise de conjuntura foi um momento importante pois demonstrou que a sociedade civil precisa estar mais organizada para cobrar mais investimentos públicos em políticas que realmente melhorem a qualidade de vida da população, sobretudo, a do campo, e não em projetos que destroem os modos de vida das comunidades.

“Precisamos estar organizados para nossa luta. Precisamos de recursos para a luta pela água, construção de cisternas, políticas de combate à fome, PAA, PNAE”, comentou Orlando.

47 anos da CPT

Durante os dois dias de Assembleia, a história da CPT foi lembrada em diversos momentos. No entanto, uma celebração eucarística presidida pelo bispo Dom Beto Breis marcou a comemoração dos 47 anos da Pastoral da Terra.

“São 47 anos de uma presença [da CPT] bonita e ajudando a Diocese de Juazeiro a ter um rosto que marca uma igreja samaritana. A CPT como Igreja se fazendo presente, animando, organizando, lutando por direitos, uma presença solidária e eficaz. E eu agradeço também por essa parceria esses anos todos”, ressaltou Dom Beto.

Organizada pelos/as trabalhadores/as, a celebração contou ainda com uma série de depoimentos de agradecimento a Dom Beto Breis, que será transferido para a Arquidiocese de Maceió no final de dezembro. Os/as participantes da Assembleia agradeceram a Dom Beto todo o apoio às lutas das comunidades em defesa do território durante os sete anos de pastoreio na Diocese de Juazeiro.

Justiça por Angico dos Dias

Como gesto concreto desta Assembleia, um grupo de participantes do encontro, com representação de diversos municípios, foi até à 17ª Coordenadoria de Polícia do Interior (Coorpin Juazeiro) cobrar a efetivação das prisões preventivas dos autores das tentativas de homicídios do atentado de 2 de setembro no território de fundo de pasto de Angico dos Dias, em Campo Alegre de Lourdes.

Os/as trabalhadores/as entregaram um documento à coordenadora da 17ª Coorpin, delegada Lígia Nunes. O documento, assinado pelo Fórum de Entidades Populares de Campo Alegre de Lourdes e pelo bispo diocesano, destaca que sem a efetivação das prisões, os posseiros das cinco comunidades de Angico dos Dias seguem prejudicados, mesmo com uma decisão judicial favorável aos trabalhadores (reintegração de posse), pois os/as agricultores/as temem retomar suas atividades normalmente e sofrer um novo atentado.

Texto e fotos: Comunicação CPT Juazeiro/BA 

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