Após fracassos na tentativa de se aproximar dos evangélicos, o PT planeja novos acenos de olho nas próximas eleições. O partido aposta na retomada de programas sociais para driblar a força do bolsonarismo nesse segmento e prevê que o próprio presidente Lula faça gestos às igrejas.
A sigla patinou ao buscar adesões nesse grupo religioso desde as últimas eleições e discute iniciativas que o governo Lula pode adotar para conquistar terreno em um reduto mais associado ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
De acordo com pesquisa Datafolha divulgada neste mês, Lula mantém reprovação de 38% entre evangélicos, ante 28% registrados entre católicos e 30% na média geral da população.
Integrantes da cúpula petista dizem que, para alcançar os evangélicos, o discurso político tem que ser muito mais amplo do que numa campanha tradicional de comunicação partidária e que a intermediação precisa ocorrer também fora dos templos.
A direção traçada pela legenda é tentar convencer a população evangélica de que o partido é o responsável por políticas com impacto na vida das famílias, como o aumento real do salário mínimo e aposentadorias, além da expansão do Bolsa Família e Farmácia Popular e outras medidas voltadas para as classes mais baixas.
Lula e demais integrantes do governo devem intensificar o diálogo com esse segmento, sinalizando que as igrejas estão entre as prioridades do PT. O presidente deverá buscar líderes religiosos, mas não há, por ora, intenção de que participe de cultos ou eventos de grande público.
Em junho, Lula recusou convite para participar da Marcha para Jesus. A menção a ele gerou uma vaia coletiva no evento em São Paulo. Na ocasião, o presidente foi representado pelo ministro da AGU (Advocacia-Geral da União), Jorge Messias.
O presidente também tem evitado temas polêmicos, como aborto e descriminalização das drogas. Há ainda a ideia de gestos pontuais, como patrocínio e estandes em eventos de denominações religiosas.
A presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, disse à Folha que a aproximação não se dará pelo debate sobre costumes ou religião, mas por meio de ações dos governos petistas. “O Bolsonaro usa a fé para fazer política e enganar essas pessoas. Nós vamos mostrar que estamos melhorando a vida delas.”
A avaliação do partido é que, apesar das particularidades dentro do segmento evangélico, a maior parte desse grupo se enquadra na fatia da população que é atendida por política sociais impulsionadas pelo PT, inclusive as ações voltadas ao público feminino.
“São mulheres, são pessoas pobres e que estão no Bolsa Família e que querem dar oportunidades para seus filhos”, completou Gleisi.
A ideia é que ocorra uma ação com capilaridade e que os dirigentes municipais do PT fortaleçam essa campanha. Um exemplo é mobilizar a militância para bater bumbo para o partido quando houver inaugurações de creches, escolas e obras nos municípios. “O povo tem que saber que é o PT que está fazendo isso”, diz Gleisi.
O secretário-geral do PT, Henrique Fontana, afirmou que o plano para reconquistar o apoio desse segmento passa por um processo trabalhoso.
“A narrativa que a extrema direita fez para intoxicar as relações dos evangélicos com o PT pode e deve ser derrubada. O PT respeita todas as crenças. Mas com o tempo a população vai ver que era tudo fake news. Me diga qual templo o Lula fechou depois de eleito?”, disse Fontana.
Ele se referiu a falsas mensagens disparadas na campanha do ano passado. O texto dizia que Lula teria declarado que fecharia igrejas se eleito. “Estando no governo, fica mais fácil desmistificar as mentiras”, completou.
Membros do partido avaliam que uma campanha partidária tradicional, pelos meios de comunicação, e voltada para segmentos mais ligados ao bolsonarismo, como evangélicos e ruralistas, não será suficiente para furar a bolha criada pelo bolsonarismo e pelo discurso ligado aos costumes.
Por isso, Fontana pretende acionar os representantes do PT nos municípios para fortalecer o partido nas bases. A Secretaria Geral Nacional da legenda é responsável, entre outras coisas, pela coordenação do conjunto da atividade partidária nacional.
“É uma disputa que exige múltiplas possibilidades. Precisamos enraizar mais o partido nesses territórios. Muitas vezes não basta só um grande líder nosso gravar um vídeo. Precisamos quebrar uma grande barreira”, declarou.
“Não adianta a gente se contentar em conversar muito com quem já está conosco”, resumiu.
Essa foi a mensagem de Lula no discurso na Conferência Eleitoral do PT na semana passada. “Será que nós estamos falando aquilo que o povo quer ouvir de nós? Será que nós estamos tendo competência para convencer o povo das nossas verdades?”, questionou o presidente.
As dificuldades em conseguir melhorar a avaliação do governo entre o eleitorado evangélico é uma das preocupações do partido.
O aumento da importância desse segmento na política tem potencial de influenciar as disputas municipais em 2024, que são um teste para as eleições gerais de 2026. O PT avalia que precisa ampliar as prefeituras e os vereadores para conseguir eleger uma bancada maior na Câmara na próxima legislatura.
Em relação ao agronegócio, que também se alinhou ao bolsonarismo, o PT acredita na melhoria da economia, com resultados na abertura de mercados internacionais e do Plano Safra, que atingiu recorde nesse ano. Também não há previsão, por ora, de Lula ir a grandes feiras e eventos do setor.
Thiago Resende e Catia Seabra/Folhapress/Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação/Arquivo
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