Aliados criticam escolhas de Bolsonaro, mas minimizam racha após crítica de Malafaia

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O presidente da República, Jair Bolsonaro, fala durante o congresso Mercado Global de Carbono, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, zona sul da cidade.

Aliados de Jair Bolsonaro (PL) criticaram nesta terça-feira (8) o ex-presidente por escolhas consideradas erradas nas eleições municipais deste ano, como em São Paulo. As avaliações dão conta de que ele teria ouvido maus conselhos, se importado demais com redes sociais e até sido omisso.

Na mais dura fala sobre o ex-chefe do Executivo, o pastor Silas Malafaia verbalizou o que muitos do entorno do ex-presidente já disseram até mesmo em outros momentos: que há um hábito de Bolsonaro em fechar acordos, mas nem sempre cumpri-los.

A fala desencadeou uma crise no mundo bolsonarista, com acusações de todos os lados, mas aliados terminaram o dia falando em virar a página e negando racha na direita.

À noite, o governador Tarcísio de Freitas (São Paulo) saiu em defesa de Bolsonaro, a quem classificou como maior liderança política, e defendeu união da direita.

“Bolsonaro é nossa maior liderança política, é quem deu voz ao sentimento do brasileiro e, apesar das crises que enfrentou, deixou um legado calcado em medidas estruturantes”, disse, em postagem nas redes sociais.

O texto de Tarcísio foi compartilhado pelo próprio Bolsonaro para seu contatos. O ex-presidente buscou minimizar ao jornal O Globo as críticas de Malafaia, afirmou não ter mágoas do pastor e se esquivou. “Eu amo o Malafaia. Ninguém critica mulher feia. Ele ligou a metralhadora, mas isso passa”, disse Bolsonaro. “Temos maturidade! Vamos seguir em frente”, afirmou Malafaia à noite à Folha.

Mais cedo, em entrevista à coluna Mônica Bergamo, da Folha, Malafaia chamou aliado de covarde e omisso. “Que porcaria de líder é esse?”, disse. Ele acusa o ex-presidente de se omitir na capital paulista, por medo de ser derrotado por Pablo Marçal (PRTB) caso o influenciador vencesse o prefeito Ricardo Nunes (MDB), com quem o ex-presidente firmou aliança e até indicou um vice na chapa.

Malafaia disse que, em São Paulo, Bolsonaro ficou em cima do muro. E, no Paraná, “sinalizou duplamente”. A referência é à indicação de apoio a Cristina Graeml (PMB) na reta final da campanha, apesar de o PL ter a vice de Eduardo Pimentel (PSD). O pastor diz que ele faz isso para “ficar bem nas redes sociais”.

O deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), aliado de Bolsonaro e Malafaia, reforçou a crítica do pastor, mas buscou apaziguar.

“Bolsonaro tem dessas coisas de aperta a mão e dá um passo atrás. É um erro dele. E como o pastor tem intimidade o suficiente, quis ser pedagógico. Decidiu fazer posição pública, para ver se ajuda o amigo dele a melhorar nessa área”, disse.

Depois completou: “Não tem nada de ruptura. Os dois se resolvem. Enquanto não tiver um presidente de direita tão popular quanto ele continuará sendo nosso maior líder”.

O passo errático de Bolsonaro em acordos também ocorreu em outros episódios do passado. No Distrito Federal, em 2022, ele fechou aliança com a sua então ministra da Secretaria de Governo e correligionária, Flávia Arruda (PL), para apoiá-la ao Senado.

Durou pouco. A ministra Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) também decidiu concorrer ao mesmo posto, contou com efusiva campanha de Michelle Bolsonaro e apoio tácito de Bolsonaro.

Ele também tinha fechado acordo com a então ministra Tereza Cristina (Agricultura) para apoiar Eduardo Riedel (PSDB) ao Governo de Mato Grosso do Sul. Mas Bolsonaro chegou a pedir votos para o adversário Capitão Contar (PRTB), em um debate de presidenciáveis da TV Globo.

Dois anos depois, agora, Bolsonaro passou por outra saia justa com a aliada em Campo Grande. Ele decidiu apoiar Beto Pereira (PSDB), em detrimento de Adriane Lopes (PP), que chegou ao segundo turno em primeiro lugar com apoio de Tereza Cristina (PP).

“[Tereza Cristina] Ficou triste no início, mas política se faz olhando para frente. Agora eu tenho certeza que o presidente Bolsonaro vai apoiar a nossa candidata lá, e aí a gente vira essa página”, disse o ex-ministro da Casa Civil e presidente do PP, Ciro Nogueira.

“Ele se saiu muito bem [nas eleições municipais], mas poderia ter saído melhor se ele tivesse seguido esses conselhos”, completou.

O diagnóstico do ex-braço direito de Bolsonaro no Planalto é que ele cedeu à pressão de deputados e senadores do PL que estavam mais preocupados com projetos pessoais. E faz ainda uma acusação contra o ex-colega de Esplanada Rogério Marinho (PL-RN), atual secretário-geral do PL.

“Rogério Marinho foi o autor intelectual deste erro. Soube que ele foi quem mais pressionou o presidente para só apoiar os candidatos do PL”, afirmou.

O PL não fez as mil prefeituras planejadas, mas conseguiu o comando de 510 municípios, tornando-se a quinta maior força eleitoral do país. O cálculo do ex-ministro da Casa Civil leva em conta o saldo de outras legendas, como o PP (743) e o Republicanos (430).

Em outra frente, reservadamente, um aliado do ex-presidente resumiu em três os problemas que minam a liderança de Bolsonaro: dar preferência a militares; querer agradar filhos; e querer agradar redes socais. Ele é capaz de mudar de convicção por medo da reação das redes, diz esse aliado.

Bolsonaro teve ganhos políticos com o avanço da direita no primeiro turno das eleições municipais de 2024, mas viu esse campo fragmentado em algumas cidades e o surgimento de novos protagonistas.

O destaque que bolsonaristas buscam dar para esse primeiro turno é a fotografia geral. Como mostrou a Folha, nomes apoiados pelo ex-presidente tiveram ampla vantagem sobre os de Lula (PT) nas 103 maiores cidades do país.

Marianna Holanda/Folhapress/Foto: Tânia Rego/Arquivo/Agência Brasil

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