A possibilidade de o general Walter Braga Netto firmar um acordo de colaboração com a Polícia Federal (PF) no âmbito do inquérito que investiga a tentativa de um golpe de estado no Brasil é considerada remota por integrantes do núcleo próximo de Jair Bolsonaro (PL). Há o temor, no entanto, de que a prisão dele impulsione outros militares, de mais baixa patente, a fazerem delação.
De acordo com um dos integrantes desse grupo, Braga Netto conseguiria resistir a um tempo mais longo de prisão —mas militares menos graduados poderiam enxergar a detenção prolongada do ex-comandante como uma ameaça: se até ele, que foi vice-presidente, que foi general quatro estrelas, não conseguiu escapar de uma longa temporada no cárcere, que dirá figuras de menor projeção.
O mesmo sentimento, analisam esses interlocutores de Bolsonaro, teria movido o tenente-coronel Mauro Cid a fazer delação. Entre a oportunidade de recompor a própria vida, preservando a sua família, e a lealdade ao ex-presidente, ele optou por assinar acordo com a PF.
Braga Netto foi preso no dia 14, por determinação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, sob a suspeita de tentar obstruir as investigações sobre o golpe.
Um de seus atos teria sido justamente tentar descobrir o que Mauro Cid relatou e seu acordo de colaboração. Ele nega.
Na semana passada, o militar anunciou a contratação do criminalista José Luis Oliveira Lima para representá-lo. O defensor afirmou que Braga Netto não vai firmar qualquer acordo de colaboração premiada com a PF, “uma vez que não praticou nenhum ilícito”.
Disse ainda que a delação de Mauro Cid, que envolveu o general na trama golpista, é mentirosa e “pior” do que as firmadas na Operação Lava Jato.
Mônica Bergamo/Folhapress/Foto: Fernando Frazão/Arquivo Agência Brasil