Neste último final de semana, aceitei o convite de meu primo para irmos, juntamente com a sua esposa, a uma festa num distrito de nossa cidade onde haveria uma festa religiosa, acho que era São Sebastião, e haveria muitos comes e bebes, prendas e principalmente, o binguinho.
Na verdade, o intuito maior dos dois era jogar o bingo, pra ser sincero, também queriam tomar cervejinha, mas o binguinho era prioridade.
Meu primo e sua esposa são o que podemos chamar de “bingo-maníacos”. Não perdem uma oportunidade de estarem conferindo as cartelinhas enquanto o cantador de bingo grita os números das pedras. Bares, festas religiosas, eventos beneficentes, asilos… se há bingo, os dois estão presentes.
Com tanta experiência no campo da “bingologia”, acreditei que os dois possuíam os cacoetes do jogo e sempre estariam batendo.
Mas que nada, a cada rodada, uma decepção. Todos batiam, menos eles.
Quartos de leitoa, frango assado, litro de pinga, liquidificador, secador de cabelo, dúzias de ovos… as premiações eram as mais variadas, mas nem mesmo as rodadas de apenas cinco pedras eles ganhavam.
— Boa ideia… 51; olha o Pelé… pedra número 10; dois patinhos na lagoa… é 22; a idade de Cristo… pedra 33…
— Bingo! – Gritou um moço na mesa do canto.
— Culpa sua. Você é muito pé frio!
Reclamava meu primo, jogando a culpa de sua má sorte em mim. E olha que até então não havia comprado cartelinha alguma, já que me interessava mais o franguinho assado e a cervejinha gelada. Porém, como estava sendo acusado pela má sorte alheia, decidi comprar apenas uma cartela. E ganhei uma bicicleta.
Enfezado, meu primo decidiu ir embora, mas ainda teve que ajeitar a bicicleta no porta-malas de seu carro, já que eu estava de carona.
Sua esposa riu muito e depois me confessou que realmente eles não costumavam ganhar muitas coisas nesses binguinhos, o que valia mais era a diversão.
Depois desse dia, meu primo não me convidou mais para participar de binguinhos com eles. Entretanto, fiquei sabendo que ele andou comprando alguns pares de meias de lã. Ele alega ser para a chegada do inverno, mas viram em seus pés no binguinho do boteco do bairro, sob um calor de mais de 34 graus, onde para variar, não ganhou nada.
RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários. Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.
Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localiza no sul de Minas Gerais.
Por Rodrigo Alves de Carvalho