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A divergência entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sobre a exploração de petróleo na Margem Equatorial, na Bacia da Foz do Amazonas, ficou evidente publicamente, ontem, durante viagem da comitiva presidencial a Belém, no Pará, para tratar da COP30. Enquanto o chefe do Executivo reiterou a pressão pela liberação de pesquisas no local e disse que Marina “jamais seria contra”, a titular do Meio Ambiente defendeu o trabalho pelo “fim dos combustíveis fósseis”.
Horas antes, em entrevista à Rádio Clube, de Belém, Lula voltou a afirmar que não quer causar desastres ambientais, mas que não pode deixar de explorar a riqueza presente na costa. Ele negou que a ministra do Meio Ambiente seja resistente à proposta.
“Tenho certeza de que a Marina jamais será contra, porque a Marina é uma pessoa inteligente. O que ela quer não é ‘não fazer’, mas é ‘como fazer’. Isso é uma coisa que eu quero, ela quer”, declarou.
O chefe do Executivo disse querer convencer a ministra e o Ibama sobre a perfuração, e citou uma reunião marcada para a semana que vem, que tratará do tema. “O Rui Costa (ministro da Casa Civil) está trabalhando muito. A gente quer mostrar para o Ibama, para a companheira Marina e para os especialistas que é plenamente possível fazer a prospecção do petróleo, e a gente não pode prescindir. Essa riqueza, se existir, vai ajudar a transição energética e a gente manter a floresta em pé.”
Em discurso durante o evento na capital paraense, Marina não mencionou a Margem Equatorial, mas enfatizou que é preciso investir em energia limpa. Ela deixou claro que a COP30 precisa representar avanços concretos, que caminhem na direção do abandono dos produtos com origem em petróleo.
“Nós ficamos 33 anos discutindo, fazendo regras, criando estruturas. Agora não tem para onde fugir. E as decisões foram tomadas na COP28: triplicar a energia renovável, duplicar a eficiência energética, fazer a transição para o fim dos combustíveis fósseis”, frisou. “Países produtores, países consumidores, países ricos à frente, países em desenvolvimento, em seguida. E, ao mesmo tempo, de sermos capazes de fazer a transição justa, sobretudo para os mais vulneráveis, como pautou o presidente Lula no G20”, acrescentou.
Marina também elogiou o trabalho do Ibama, alvo de críticas de Lula. “Já tivemos redução de 45% (do desmatamento) na Amazônia, 27% na Mata Atlântica, 77% no Pantanal e 48% no Cerrado”, elencou a ministra.
“Isso é o esforço inicial para que a gente chegue no desmatamento zero. Aumentamos as ações de fiscalização do Ibama em 96%, do ICMBio em quase 200%, junto com a Polícia Federal e 19 ministérios trabalhando.”
Correio Braziliense Foto Agencia Brasil