
No sertão nordestino, o Dia de São José, celebrado em 19 de março, carrega uma antiga crença: se chover até a data do santo, o ano será de boas chuvas e colheitas fartas. A tradição, passada de geração em geração, é lembrada e louvada por muitas famílias. Por isso, o dia é esperado com grande expectativa, seja pelas festas para o santo que mobilizam cidades, ou pelo aguardo da previsão.
Em Juazeiro, no norte da Bahia, a fé resiste na comunidade do Rodeadouro, da qual o santo é padroeiro. A moradora Célia Regina, 68, conta que, por lá, há, inclusive, um bendito (tipo de oração) especial para pedir chuva: “Tem vezes que está até chovendo quando a gente está rezando a novena. Quando começa a quebrar o bendito, o pessoal diz: ‘Eita, ainda vai pedir mais chuva!”.
Ela acrescenta que a oração não garante a queda d’água, mas fortalece a fé de quem cultiva esse costume dos antepassados: “A gente já cresceu assim, desse jeito. Não é que a chuva venha só porque a gente rezou – ela vem quando tem que vir –, mas a gente tinha essa fé”.
E, de fato, a fé não costuma falhar. Registros da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), por exemplo, mostram que, no Ceará, choveu no Dia de São José em todos os últimos 21 anos.
Para a ciência, no hemisfério sul, a explicação é que a data acontece próxima ao equinócio de outono, período em que as chuvas costumam ser mais intensas. Além disso, a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema responsável pelas chuvas no semiárido nordestino, atinge seu auge entre fevereiro e maio.
No entanto, a vida e a fé vão além. Para este dia 19, segundo o instituto ClimaTempo, a previsão não aponta chuva, mas a fé do Rodeadouro tem a força de mudar destinos.
Plantar no Dia de São José dá sorte?
Além das novenas, outro costume popular é plantar milho no dia do santo. Se, por um lado, isso é garantia de ‘fartura’, por outro, é também certeza de colheita na época das festas juninas. Isso porque, tipicamente, o milho leva cerca de 90 dias para crescer, ficando pronto para a colheita justamente no tempo de São João. A fé dá força para o plantio e a sabedoria popular reforçam a ideia com um ditado antigo:
“Quem plantou em São José, no São João nunca falhou”, canta Célia. Não só o milho, mas feijão, macaxeira e outros alimentos típicos também costumam ser plantados na data.
Por isso, a comunitária Ovídia Izabel de Sena, 76, diz que o dia é especial não só para os devotos, mas “para os agricultores, para pedir chuva, para que possa ter uma grande fartura pela frente”, comenta.
Ainda assim, ela ressalta que, embora antigamente muitos agricultores da comunidade seguissem o costume do plantio no dia 19 de março, hoje em dia já não se sabe mais da sua realização, pois a agricultura familiar na região tem dado lugar aos grandes cultivos.
“São poucas as pessoas que têm pedacinhos de terra hoje. Já os grandes agricultores não costumam cultivar milho. Eles cuidam mais de melão, melancia e manga, que são os alvos aqui na comunidade”, explica.
Seja como for, para além das chuvas, a comunidade possui uma relação fraternal com o santo, pedindo, no dia 19, por proteção, força para enfrentar dificuldades e auxílio aos irmãos. “A nossa comunidade é turística, possui muito movimento de pessoas. E São José cuida muito bem da gente e das nossas famílias”, diz Ovídia.
Ascom PMJ