
Durante a Quaresma, os Penitentes de Juazeiro (BA) saem às ruas, em um ritual que atravessa gerações. Cobertos com vestes brancas, o grupo caminha entre a Quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira da Paixão, três vezes por semana, entoando benditos e realizando orações por todos os mortos. A tradição, enraizada no catolicismo popular, existe há mais de um século e continua sendo uma das expressões de fé mais antigas da cidade.
A peregrinação começa com o madeiro, uma grande cruz, seguida pelos penitentes, que acendem velas nos cruzeiros espalhadas pela cidade, passando por capelas e locais marcados por mortes trágicas até chegarem ao cemitério, ponto culminante da caminhada. “Durante a caminhada, passa-se por sete estações, que representam as sete dores de Jesus Cristo e reza-se por todas as almas, independentemente de qual foi a causa da morte”, explica Ermerson Oliveira, conhecido como Pai Bimbo, que participou do ritual por quase 20 anos.
A procissão se divide em dois principais cordões: as alimentadeiras de alma, que conduzem as orações e cânticos, e os disciplinadores, que seguem em penitência e autoflagelo, enquanto o som da matraca marca o ritmo da caminhada. Juazeiro já teve até cinco cordões de penitentes, mas hoje a tradição se mantém com o grupo liderado por Jesulene Ribeiro, a Nenenzinha, e também é vivida no interior, como nas localidades do Salitre e Rodeadouro. “É uma tradição centenária que está se acabando. Os mais jovens não querem assumir essa responsabilidade, mas seria muito importante que ela continuasse”, lamenta Ermerson.
Para preservar essa tradição, a Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes (Seculte) tem apoiado a caminhada com ações como limpeza e iluminação das vias por onde os penitentes passam. “Os penitentes de Juazeiro são de extrema importância, passando essa tradição de geração em geração. Precisamos manter esse legado e garantir que ele continue”, afirma o secretário Targino Gondim.
Foto: Ascom PMJ/divulgação