Crônica: Marina quer marido

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Marina completou vinte e nove anos e bateu o desespero. Achava que a mulher tinha que casar antes dos trinta ou então poderia acontecer a “maldição da titia”. Ainda mais, por saber que suas duas irmãs, Marlete, de vinte e cinco anos e Marli, de vinte e três, também estavam na época de laçar um marido, e por obra da natureza, as duas eram mais bonitas que ela.

Tudo o que Marina conseguira romanticamente falando até aquela data, foram algumas paqueras e alguns pretendentes que não agradaram o coração da pobre solteira.

Com tal situação delicada, o jeito foi apelar para o salvador de donzelas “à perigo” e entrou em cena o famoso e infalível Santo Antônio.

Marina não teve dó e mergulhou o santinho de ponta cabeça num copo d’água, com a promessa de só retirá-lo quando seu príncipe encantado aparecesse.

E não é que duas semanas depois, em uma quermesse no bairro, um moreno de sorriso largo encasquetou com a moça. Ele chegou de mansinho e fluiu a conversa.

Mas já no outro dia, Marina não quis saber do moreno.

— Ele mora na roça! Apanha café e anda a cavalo! Eu não vou casar com um homem assim! Prefiro esperar mais um pouco para aparecer coisa melhor.

Não foi dessa vez que Santo Antônio sairia das profundezas do copo d’água.

Porém, se o moreno não conseguira agradar a exigente moçoila, sua irmã Marli se apaixonara por ele e um ano depois, estavam casados.

Marina desacreditou e não botou fé nessa união. Acreditava que seu santo encharcado iria lhe proporcionar mais felicidade que a irmã.

Surgiu então Valdecir, um rapaz alto e magro, sujeito sério e franco. Apresentou-se, conversou com Marina, mas não vingou.

— Ele é balconista em uma loja e mora com o pai e a mãe. Não vai ter jeito, como vai sustentar uma família se ainda sustenta os pais?

E mais uma vez, a tentativa de Santo Antônio foi por água abaixo, ou melhor, continuou água acima.

Nesse ínterim, Marlete caiu de amores por Valdecir, e logo também estavam casados.

Os trinta anos chegaram para Marina e nada de casamento. Santo Antônio estava todo desbotado de tanto ficar no copo d’água. Até que surgiu outro pretendente.

Antônio era lindo, loiro, alto de olhos azuis. Tinha um carrão importado, casa própria na cidade e em São Paulo, trabalhava como gerente de uma grande rede de supermercados.

— Só pode ser este! Tem até o nome de meu santinho querido!

Enfim, namoraram e depois de sete meses estavam casados. Mudaram-se para São Paulo e viveram infelizes para quase sempre.

Mas a história não acaba aqui, porque o casamento acabou quatro meses depois. A moça não suportou o marido grosseiro, violento e infiel.

Marina caiu em depressão, ainda mais quando via suas duas irmãs casadas, e muito bem casadas por sinal, com seus filhos lindos e estabilizados financeiramente.

Passou-se alguns anos e ninguém sabe mais do paradeiro de Marina.

Alguns dizem que virou freira e vive num convento em São Paulo, outros dizem que largou mão de homem e vive com uma namorada, e outros afirmam que trabalha em uma boate no interior do estado, e continua atrás de marido… mas agora, de outras.

RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários.  Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.

Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localizada no sul de Minas Gerais.

Por Rodrigo Alves de Carvalho

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