Ninguém ensina a voltar

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Voltar para si não é egoísmo — É sobrevivência. E também é recomeço.

Ninguém ensina a voltar. A sair de um lugar que você nem viu que entrou. A se reconhecer após meses (ou anos) sendo o que esperavam de você. A perceber que, em algum ponto do caminho, você se perdeu de si e não sabe mais onde foi parar.

Não tem manual para isso. Ninguém te diz que voltar para si pode doer tanto quanto ir embora. Que vai ter culpa, medo, saudade do que você fingia ser. Que mesmo as versões que te machucaram deixam um tipo estranho de conforto. O conforto de saber quem você era, mesmo que aquilo fosse só um rascunho mal feito.

Voltar é desconfortável. É abrir gavetas que você fechou com pressa. É ouvir a própria voz após anos falando só o que o outro queria ouvir. É olhar no espelho e não se reconhecer — mas, ainda assim, escolher ficar. Escolher se esperar. Escolher se reconstruir, mesmo sem ter certeza se vai dar certo.

Ninguém fala que às vezes o caminho de volta é mais longo que a ida. Que tem tropeço, tem recuo, tem dias em que parece que você está voltando para lugar nenhum. Mas ainda assim, é para ir. É para continuar. Porque, lá na frente, tem um ponto onde a dor desacelera. Onde o peso diminui. Onde a vida começa a caber de novo no peito.

E talvez seja isso que signifique voltar: não ser quem você era antes, mas ser quem você precisa ser agora. Com mais cuidado, com mais verdade, com mais espaço para você habitar em paz dentro de si.

@enricopierroofc

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