Registros publicadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que, aproximadamente, uma em cada três mulheres (35%) em todo o mundo sofreram violência física e/ou sexual por parte do parceiro ou de terceiros durante a vida. Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2022, ao longo da última década (2012 a 2021), 583.156 pessoas foram vítimas de estupro no Brasil. Apenas no último ano, 66.020 boletins de ocorrência de estupro foram registrados, com crescimento de 4,2% em relação ao ano anterior.
Para discutir violências sofridas pelas mulheres, os impactos na saúde mental e a importância de um tratamento humanizado, o Hospital Geral Roberto Santos (HGRS) realizou, na última semana, uma mesa redonda com tema “Maternidade e Saúde Mental das mulheres: uma discussão multidisciplinar”. Com participação de profissionais do HGRS e do Instituto de Perinatologia da Bahia (Iperba), o evento abordou também violência obstétrica.
“A violência sexual vai além da violação ao corpo da mulher. Viola a dignidade, a autonomia da mulher, trazendo danos devastadores, como a gravidez indesejada, infecções sexualmente transmissíveis e questões emocionais, como depressão, ansiedade, medo e humilhação, podendo levar até mesmo ao suicídio. O Hospital Roberto Santos recebe mulheres que procuram ajuda. Geralmente, quando a mulher sofre violência sexual, não procura o serviço de saúde imediatamente. Muitas vezes, é o último pedido de socorro” relata assistente social do HGRS, Josiane Lima.
No entanto, a profissional ressalta a importância de buscar um serviço de saúde o quanto antes, para que sejam dados os encaminhamentos necessários, como a profilaxia para infecções sexualmente transmissíveis e a possibilidade da utilização da anticoncepção de emergência, a chamada pílula do dia seguinte. A violência sexual é considerada pela OMS uma questão de saúde pública, portanto, é recomendado que os governos estabeleçam políticas e planos nacionais de prevenção controle da vida, estando o atendimento às vítimas entre estas diretrizes.
Violência obstétrica
Tema também abordado durante o evento promovido pelo HGRS, a violência obstétrica é um tipo de agressão às gestantes durante ou após o parto. Pode ocorrer desde a episiotomia desnecessária – uma incisão no períneo para facilitar a passagem do bebê – até situações mais sutis, como comentários dos profissionais de saúde para que a mulher não expresse sua dor enquanto dá à luz.
De acordo com a pesquisa Nascer no Brasil, elaborada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 36% das gestantes enfrentam maus-tratos durante o parto. O estudo aponta ainda a existência de um grupo de risco para tratamento inadequado: negras, pobres, grávidas do primeiro filho, jovens e em trabalho de parto prolongado.
“O mais importante é dar informação para essas mulheres. Na triagem, não tem como abordar o assunto porque é uma passagem muito rápida, mas as informações devem ser fornecidas no processo do pré-natal. Não podemos romantizar a gestação, nem o parto. É preciso saber o lugar da maternidade, qual o índice de violência, quais são os profissionais que vão assistir o parto, indicar onde buscar mais informações”, explica a enfermeira obstétrica do HGRS, Sueide Cruz.
Com base em estudos e casos apresentados, os profissionais presentes no evento discutiram a necessidade de conscientizar as equipes sobre a importância de um atendimento humanizado para suprir as necessidades das pacientes durante o parto.
Renata Farias/Assessora de Comunicação do Hospital Geral Roberto Santos (HGRS)