Ned Price, porta-voz do Departamento de Estado norte-americano, rebate as críticas de Bolsonaro e afirma que as urnas eletrônicas são “modelo para nações não apenas neste Hemisfério” e que EUA acompanharão as eleições de outubro “com grande interesse”
Um dia após a embaixada dos Estados Unidos no Brasil emitir uma nota assegurando a confiança no sistema eleitoral brasileiro, o governo dos Estados Unidos reafirmou que as urnas eletrônicas brasileiras já foram testadas várias vezes e servem como modelo para outros países.
“Na nossa visão, as eleições no Brasil vêm sendo conduzidas pelo sistema eleitoral brasileiro, capacitado e já testado, e pelas instituições democráticas com sucesso por muitos anos, então, trata-se de um modelo para nações, não apenas para este Hemisfério, mas para o mundo”, afirmou o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, nesta quarta-feira (20/7), durante pronunciamento à imprensa, em Washington, após ser questionado sobre a reunião do presidente Jair Bolsonaro (PL) com mais de 70 representantes de embaixadas realizada na última segunda-feira (18).
“Como um parceiro democrático do Brasil, vamos acompanhar as eleições gerais de outubro com grande interesse e a nossa expectativa é de que o processo seja conduzido de forma livre, justa e confiável, com todas as instituições agindo conforme seu papel constitucional”, acrescentou o porta-voz da diplomacia dos EUA.
Na segunda-feira, atropelando as atribuições do Itamaraty, o Palácio do Planalto convocou embaixadas para a reunião de Bolsonaro, no Palácio do Alvorada, e informou que 72 embaixadores e representantes diplomáticos compareceram ao encontro.
Durante o evento, o presidente não poupou críticas ao sistema eleitoral brasileiro e criticou nominalmente vários ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O discurso, transmitido ao vivo pela TV Brasil, além de não ter sido organizado pela chancelaria, segundo técnicos do Ministério das Relações Exteriores, foi visto como propaganda eleitoral antecipada por parlamentares da oposição. Juristas, inclusive, apontaram crime de responsabilidade de Bolsonaro.
Terça-feira (19), um dia após a reunião no Alvorada, a embaixada dos Estados Unidos no Brasil emitiu uma nota reforçando que o governo norte-americano confia no processo democrático brasileiro. “Estamos confiantes de que as eleições brasileiras de 2022 vão refletir a vontade do eleitorado. Os cidadãos e as instituições brasileiras continuam a demonstrar seu profundo compromisso com a democracia. À medida que os brasileiros confiam em seu sistema eleitoral, o Brasil mostrará ao mundo, mais uma vez, a força duradoura de sua democracia”, destacou a nota.
Convocação
O senador Fabiano Contarato (PT-ES), protocolou, na terça-feira (19), na Comissão de Relações Exteriores do Senado, um requerimento para a convocação do ministro das Relações Exteriores, Carlos França, para comparecer ao colegiado a fim de prestar esclarecimentos sobre essa reunião no Alvorada.
“Sem provas, o chefe do Executivo tem feito reiterados ataques às urnas eletrônicas, afirmando que houve fraude. Mesmo desmentido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Bolsonaro insiste em tentar desacreditar o sistema de votação brasileiro”, destacou a nota da assessoria de Contarato.
“Diplomatas ficaram abalados durante a reunião convocada ontem pelo presidente Jair Bolsonaro. A acusação de fraude do sistema eleitoral é uma prática populista daquele que está prestes a perder as eleições, assim como ocorreu nos Estados Unidos da América sob a gestão de Donald Trump, que insuflou seus apoiadores a recusar o resultado das eleições de 2020 e a invadir o Congresso norte-americano”, disse Contarato, no comunicado.
O senador destacou ainda que atacar as urnas eletrônicas significa atacar todos os princípios e instrumentos que sustentam a democracia brasileira. “Cumpre ressaltar, também, que o Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelo princípio da independência nacional, que é a liberdade e direito de exercer todas as suas atividades locais sem intervenção externa”, destacou.
A assessoria de Contarato espera a volta do recesso parlamentar para ver como será a tramitação do requerimento na CRE.
Procurado, o Itamaraty reiterou que não foi responsável pela organização da reunião com os embaixadores e não comentou sobre a convocação do ministro.
Veja, abaixo, a íntegra da nota da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil emitida após a reunião do Palácio do Alvorada da qual participou o encarregado de negócios Douglas Koneff.
Nota da Embaixada
Como já declaramos anteriormente, as eleições no Brasil são para os brasileiros decidirem. Os Estados Unidos confiam na força das instituições democráticas brasileiras. O país tem um forte histórico de eleições livres e justas, com transparência e altos níveis de participação dos eleitores.
As eleições brasileiras, conduzidas e testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas, servem como modelo para as nações do hemisfério e do mundo.
Estamos confiantes de que as eleições brasileiras de 2022 vão refletir a vontade do eleitorado. Os cidadãos e as instituições brasileiras continuam a demonstrar seu profundo compromisso com a democracia. À medida que os brasileiros confiam em seu sistema eleitoral, o Brasil mostrará ao mundo, mais uma vez, a força duradoura de sua democracia.