Filha de Telmário Mota acusa pai de estupro; senador nega

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Senador Telmário Mota (Pros) é candidato à reeleição ao senado — Foto: Reprodução GloboNews

Jovem relata ter ido passar a noite com o pai durante o dia dos pais.

Uma filha do senador Telmário Mota (PROS-RR) afirma que ele a assediou, tocou em suas partes íntimas e tentou arrancar a sua roupa no último domingo (14), Dia dos Pais. A adolescente registrou um boletim de ocorrência contra o pai e a Polícia Civil investiga. O parlamentar nega e afirma ser vítima de perseguição política.

Em entrevista exclusiva ao g1, a filha do senador, de 17 anos, contou que, desde então, sente medo e uma “dor que não se acaba”.

Ela contou que o pai a forçou entrar em seu carro e a tomar bebidas alcoólicas. Também disse que o senador tomou seu celular durante os assédios para que ela não pedisse ajuda para ninguém (leia outros trechos abaixo).

Além de negar o assédio, Telmário Mota disse que a filha passa “por um grave distúrbio psicológico” (confira a nota abaixo). O senador é casado com uma médica, com quem não tem filhos. A adolescente que fez a denúncia é filha de um relacionamento dele com outra mulher.

Polícia investiga

O caso foi registrado na Polícia Civil como estupro de vulnerável ainda na noite de domingo. Após a queixa, a mãe da menina afirma que a juíza Graciete Sotto Mayor Ribeiro, da Vara de Crimes Contra Vulneráveis, concedeu uma medida protetiva em favor da filha.

Segundo a mãe, a medida proíbe Telmário Mota de se aproximar da adolescente e da família dela, devendo manter distância de 500 metros. A assessoria do Tribunal de Justiça de Roraima informou que não pode dar informações sobre o processo por estar em segredo de justiça.

Telmário Mota foi eleito senador em 2014, quando derrotou outros quatro candidatos. Antes, havia sido vereador em Boa Vista. Nas eleições de 2018, foi candidato ao governo de Roraima pelo PTB, mas ficou fora do segundo turno.

A entrevista foi concedida com autorização da mãe da menina. Para ela, o que aconteceu foi revoltante.

“Tudo isso me dá muita revolta, mas eu também fico com medo do que pode acontecer. Eu confio muito na minha filha e estou aqui para ficar do lado dela. Ela não merecia passar por isso”, diz a mãe.

A advogado da família informou ter conhecimento da entrevista, mas não falou com o g1 já que o caso corre em segredo de Justiça.

O que diz o senador e o partido

Procurado pela reportagem, o senador Telmário Mota afirmou que não irá se pronunciar por não ter sido notificado sobre o relato da filha.

“Não sei nem o conteúdo. Está na mão da Justiça e quando eu for notificado, vou fazer minha defesa”, disse.

Em carta aberta publicada na segunda-feira (15), o senador afirmou ter tomado conhecimento pelo WhatsApp do que chamou de “rumor”. Alegou se tratar de perseguição política e disse que sua filha está passando por um “grave distúrbio psicológico” (leia a íntegra mais abaixo).

Questionado também sobre todos os relatos da filha, de que ele tentou beijá-la, agarrá-la e de que tentou passar mão nas partes íntimas dela, oferecer bebida alcoólica, de dirigir embriagado pelas ruas da cidade e de sempre andar armado (entenda mais abaixo), o senador não comentou.

Em nota, o PROS, partido do senador, afirmou ser “veementemente contrário a violência ou abuso, seja ele de qual natureza for”, que o senador Telmário Mota “assegurou ser vítima de uma montagem política que vislumbra atacá-lo no período eleitoral” e que vai aguardar o resultado das investigações.

Segundo a adolescente, ela fez contato com o senador para os dois passarem o Dia dos pais juntos. Ela disse que o pai ligou por volta das 19h dizendo que iria levá-la para um lago, para comemorarem a data.

A adolescente afirmou que, por causa do horário, estranhou que o passeio fosse para o lago, mas confiou no pai por “sempre ter tido rolês de pai e filha” com ele. O lago em questão é um balneário que fica na zona Rural de Boa Vista. Ela a buscou em casa.

“Assim que eu entrei no carro, ele disse que o lago já estava fechado. Ele disse, então, que a gente ia dar uma volta, sem dizer que lugar específico que a gente iria. Nesse caminho ele perguntou onde eu queria ir, falei que não sabia, mas disse que gosto de sair para comer”.

A jovem disse que após sugerir irem comer algo, foi repreendida pelo pai, que queria “sair para beber”. Segundo ela, o senador estava “claramente bêbado”. A adolescente disse que notou isso no momento em que a buscou na casa por conta da forma como ele dirigia.

“Ele disse ‘não, eu quero beber, eu gosto de sair pra beber’, só que ele já estava meio bêbado. Não deu de perceber no início pois ele estava falando palavras curtas, mas percebi que ele estava bêbado por causa da forma que ele tava dirigindo”, contou.

Durante o passeio, ainda no carro, de acordo com a adolescente, o senador começou a tentar tirar a roupa dela, que ficou assustada com a conduta do pai.

“Dentro do carro, ele começou a tentar tirar minha roupa. Ficou me tocando, tocando… Eu não consigo nem falar sobre o tanto que isso foi horrível”.

A adolescente contou que o senador tentou tirar sua roupa “inúmeras” vezes. Entre as investidas, tentou beijá-la e tocou suas partes íntimas. De acordo com a adolescente, essa foi a primeira vez que seu pai demonstrou esse tipo de comportamento com ela.

“Falando disso, eu sinto muito mal estar. Mas eu sinto que tenho que falar. É ruim demais até falar disso”, disse, acrescentando que sempre teve aproximação com o pai, embora a vida dele fosse corrida.

Ela disse ainda que sentiu medo e sugeriu ao pai que eles fossem beber na casa do namorado dela, onde estava a família dele. A adolescente disse que o pai aceitou e, antes, ele parou em uma distribuidora, comprou cerveja e ofereceu para ela.

“Ele tentou me forçar a beber, só que eu tive que fingir que estava bebendo. Não recusei. Peguei e fiquei tampando a tampa da garrafa com a língua pro líquido não descer, para fingir. Ele tava embriagado e não percebeu que o líquido da garrafa não estava esvaziando”, conta.

Ao chegar na casa do namorado, o senador foi ao banheiro. Ela disse que aproveitou o momento para pedir socorro ao namorado.

“Assim que eu cheguei na casa do meu namorado, ele conversou com a minha sogra e foi usar o banheiro. Eu me desesperei. Quando ele saiu eu virei e falei ‘socorro, meu pai tá tentando abusar de mim'”.

Após sair do banheiro, segundo ela, Telmário falou que os dois iriam sair do local, pois ele precisava ir em uma “reunião política”. A adolescente contou que o pai a forçou a ir e ela foi sem relutar pois “ele sempre anda armado”, e, por isso, sentiu medo.

“Quando ele falou que a gente ia, acabei indo. Ele tem armas, sempre anda armado. Tive medo que ele pegasse a arma e atirasse em alguém por eu não ir. Ele chegou a gritar comigo mandando eu entrar dentro do carro, eu fui por medo”.

A jovem conta que o trajeto para o local, que seria no bairro Paraviana, zona Leste de Boa Vista, foi “a pior de todas”, pois as investidas ficaram mais intensas.

“Nesse caminho foi complicado. Foi nesse momento que ele tentou tirar minha roupa, já começou a tocar nas minhas partes íntimas. Eu só consegui mandar mensagem para a minha mãe, com a palavra ‘socorro’. Ele tomou o celular de mim para eu não mandar mensagem para ninguém. Minha mãe não recebeu a mensagem, não estava online, estava na igreja”.

Ela conta que por diversas vezes pensou em pular do carro em movimento, pois não via solução para fugir da situação. Após diversas tentativas, a adolescente disse ter recebido a ligação de uma amiga. De acordo com ela, o pai deixou atender, pois ela disse se tratar de sua mãe querendo saber onde ela estava.

Após isso, a menina contou que o pai aceitou deixá-la na casa do namorado mas, no caminho, a violência e o assédio não pararam até que ela fosse, de fato, deixada no imóvel.

A filha contou que chegou a comprar uma caneca personalizada com a foto dos dois como um presente do Dia dos pais, porém, com a situação, acabou não entregando.

Na noite do caso, quando a menina foi deixada na casa do namorado casa pelo pai, a Polícia Militar foi acionada. O relato dela aos policiais foi detalhado em um relatório de ocorrência policial e registrado no no 3º Distrito Policial. A Polícia Civil informou que encaminhou a queixa ao Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente (NPCA), “que ficará responsável pela investigação do caso.”

Boletim de ocorrência

Ao chegar na casa do namorado, a adolescente disse que lembra ter “entrado em crise”. Ela conta que chorou em desespero e, por isso, todos na casa notaram que algo não estava certo.

“Assim que eu cheguei na casa do meu namorado, eu estava em desespero. Estava chorando muito, entrei em desespero. Não queria falar nada para ninguém, só que meu namorado já sabia, então ele falou para a minha cunhada e para minha sogra que ele [Telmário] tentou abusar de mim. Minha cunhada ficou com muita raiva e ligou para a polícia. A minha mãe já tinha saído da igreja, foi pra lá também”.

Ela conta que no mesmo dia dos abusos, acompanhada dos familiares, foi até uma delegacia registrou o boletim de ocorrência contra o pai, o que resultou na medida protetiva.

“Como ele tem um poder político a mais que a gente, eu tinha medo dele fazer algum mal com a gente. Na verdade, ainda tenho muito medo. Mas aí todos me aconselharam a não me calar”.

“Eu estava muito mal, passei de um lado para o outro, falei com delegados, na mesma noite. Eu estava mal, mas tinha que ser feito logo [o registro na polícia]. Saímos da delegacia à meia-noite com o Boletim de Ocorrência feito”, conta.

Após a publicação da carta aberta por Telmário, a jovem relata que o sentimento foi de revolta e tristeza. Para ela, o pai se “apegou” ao fato dela fazer terapia e tratar ansiedade para minimizar o que houve.

“Ele falou que era uma coisa política. Mas a gente não tem nada a ver com isso. Ele disse que eu tinha demência, transtorno. Eu cheguei a fazer terapia, mas foi para tratar ansiedade. Quando eu ia para as competições de natação, eu ficava muito nervosa. A terapia era só para tratar isso, pra quando eu ia fazer um vestibular, uma prova, mas só para isso. Eu estou no pré-vestibular, é puxado a vida de quem está estudando”.

O sentimento de vergonha, culpa e constrangimento, de acordo com a adolescente, tomou conta dela. Desde o ocorrido, ela prefere ficar trancada no quarto de casa.

“O sentimento é horrível. Minha ficha parece que não caiu sobre isso. O meu próprio pai. Ele fez eu me sentir culpada por tudo, até por fazer terapia…”.

“Nunca gostei de participar de coisas que eu ficasse exposta. Sempre fui fechada. Agora todo mundo sabe dessa situação. Eu não queria ir para a escola, faltei na segunda, fui na terça, todo mundo lá estava sabendo, então fui embora. Estamos no fim de semestre, então não tivemos aula, por sorte eu não peguei falta, mas eu não sei como vai ser para voltar pra escola, pra vida social, depois disso”.

“Fico muito constrangida pois às vezes, me sinto culpada por isso. Todo mundo sabe quem é meu pai. Vergonha demais. Só dá vontade de ficar em casa. Ainda não caiu a ficha. Uma dor que não acaba.”

Suplente de Telmário Mota renuncia após denúncias

O suplente do candidato à reeleição ao senado Telmário Mota (Pros), Marcus Holanda, ex-presidente nacional do partido, renunciou ao cargo, nessa quarta (17) após as denúncias da filha do senador. Ele descreve o episódio como “lastimável”.

“É com extremo pesar que tomo conhecimento da ocorrência policial, uma tragédia familiar que nos entristece. Eu, como policial civil aposentado, pai de três filhos – sendo duas meninas -, duas netas e esposo da pastora Ivanuza Araujo Ferreira de Holanda, diante da gravidade da situação desse episódio lastimável, quero deixar aqui minha solidariedade à vítima e à família”, disse.

Marcus Holanda, pediu ainda para “tomar cuidado com a abordagem do assunto” como medida de proteção à “imagem e a integridade de uma adolescente vítima de crimes sexuais, indevidamente exposta à opinião pública”.

Nota na íntegra do senador

NOTA À IMPRENSA

Tomei conhecimento hoje, por meio de mensagens de whatsapp, de um suposto boletim de ocorrência com acusações gravíssimas, mentirosas, absurdas, rasteiras e levianas.

Não sei informar, contudo, se de fato foi registrado o malfadado B.O., ou se se trata de mais uma mentira de pessoas que querem a todo custo prejudicar a minha campanha.

A maldade humana não tem limite e quando se trata de política são capazes de qualquer coisa. Dois anos atrás um irmão meu, dependente químico, completamente fora de lucidez, foi filmado falando mentiras contra mim. Tive que recorrer a justiça para estabelecer a verdade. Se não fosse a justiça, as mentiras estariam até hoje sendo livremente espalhadas nas redes sociais e jornais comprados pelo grupo adversário com dinheiro roubado dos cidadãos de Roraima.

Agora, um dia antes do início do período eleitoral, novamente sou vítima de um absurdo desse. Se utilizam de uma filha minha que está passando por um grave distúrbio psicológico, com tentativas de tirar a própria vida, para tentar me atingir e prejudicar a minha candidatura à reeleição.

Repudio, de maneira profunda, tudo que está sendo repassado por adversários e suas aves de rapina que fazem fortuna criando e espalhando mentiras contra pessoas que tentam livrar Roraima de um grupo político que há anos só dilapida o patrimônio público.

Reafirmo que não fui intimado de qualquer tipo de acusação nesse sentido. De qualquer maneira, novamente irei procurar a justiça, estabelecer a verdade. É lamentável que os nossos adversários não tenham limite em suas mentiras e ações criminosas.

Telmário Mota

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