De segunda a sábado, a feira de Itiúba, município que fica a 382 quilômetros de Salvador (BA), na região do semiárido, é abastecida por hortaliças, verduras e frutas produzidas no assentamento Bela Conquista, situado a 3 quilômetros do centro da cidade.
Tudo chega bem fresquinho e supre a cidade com coentro, alface, cebolinha, cenoura, beterraba, rúcula, couve, abóbora, batata doce, feijão e aipim. Além desses produtos, as 48 famílias contempladas pelo Programa Nacional de Reforma Agrária (PNRA) comercializam frutas, como mamão, banana, limão, acerola e manga.
“Embora não tenham selo de orgânico, os agricultores não costumam utilizar agrotóxico”, explica a filha de assentado, Ana Rita Terra, que é estudante do curso superior de Tecnologia em Alimentos, através do Programa de Educação do Campo, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB).
Segundo ela, a adubação, em geral, é feita com compostagem de esterco de gado e cabras, como também, utilizam defensivos naturais, de conhecimento ancestral, a exemplo da urina de animais.
“Os saberes populares ajudam as famílias a organizarem os plantios dentro das estações do ano”, conta Ana Rita. Segundo ela, as chuvas variam muito na região, o que influenciam na produção de algumas plantações que exigem mais água do que outras.
Água
Ana Terra ressalta que o Incra na Bahia instalou dois poços artesianos que dão suporte durante os períodos de estiagem. “Eles abastecem com água de qualidade as famílias, animais e plantações em tempos sem chuva”, conta a estudante.
Mas, em tempos normais, as famílias e as lavouras são atendidas por um açude situado acima do assentamento em que a água desce por gravidade. Em 2021, a comunidade foi contemplada com a instalação de uma rede de água tratada nas residências.
Semiárido
O fato de estarem inseridos na região do semiárido baiano é um desafio aos agricultores, mas nunca foi um limitador. O assentado José Gonçalves Terra, frisa que uma das grandes dificuldades é escoar a produção, pois no inverno a produção é maior.
“A alface e o coentro, por exemplo, às vezes perdem, pois, ficam sem mercado”, explica Terra, que é tio de Ana Rita. Segundo o agricultor, 90% das famílias sobrevivem das hortaliças e verduras que geram, em média, entre R$ 300 a R$ 500, por semana ao produtor.
Além disso, de modo coletivo, os agricultores também se dedicam à criação de 150 caprinos e 40 cabeças de gado leiteiro. “A produção do leite é vendida na cidade também”, acrescenta Terra.
Durante a fase mais aguda da pandemia do Covid-19, o Bela Conquista ainda forneceu hortaliças e verduras que foram doados, por meio dos programas sociais, às famílias carentes.
Adequação
O grande sonho das famílias do Bela Conquista é reativar a agroindústria do assentamento e voltar a produzir cerca de 2,5 toneladas de polpa de fruta, como acerola, manga e goiaba. Para isso, eles precisam investir para obter a licença sanitária.
No passado, de acordo com José Terra, as famílias entregavam as polpas de fruta para a merenda escolar, através do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Os assentados também produziam iogurte para a merenda escolar, mas tiveram que parar a produção para se adequarem às exigências sanitárias. “Ainda não pudemos fazer as adaptações”, lamenta.
Assentamento
O Bela Conquista é um assentamento criado por meio do programa de crédito fundiário, nos anos de 1990. A área de 688 hectares foi reconhecida pelo Incra na Bahia em 2008.
“Os agricultores estavam cansados de vender o seu dia de trabalho. E viram na reforma agrária um modelo alternativo para mudar de vida e garantir a soberania alimentar”, pontua Ana Rita.
Quando a comunidade foi integrada ao Programa Nacional de Reforma Agrária, as famílias puderam acessar o Crédito Instalação, executado pela autarquia federal.
Além dos poços artesianos, os agricultores do Bela Conquista receberam as antigas modalidades de linhas de crédito para aquisição de material de construção e semiárido.
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