Bolsonaro deixa presidente de Portugal incomodado no palanque de 7 de Setembro

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O presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, passou por instantes de desconforto durante o desfile cívico-militar em celebração ao bicentenário da independência do Brasil. A transmissão oficial do governo brasileiro e as fotógrafos captaram Rebelo de Sousa visivelmente contrariado, com semblante fechado, na tribuna de honra onde autoridades nacionais e estrangeiras assistiram às comemorações do Sete de Setembro.

O estranhamento na comitiva portuguesa, segundo fontes diplomáticas, foi provocado pelo empresário bolsonarista Luciano Hang, que saiu de seu lugar ao fundo da tribuna e se colocou na primeira fila, área reservada aos chefes de Estado. A troca ocorreu logo após o início da parada militar. Até então, Rebelo de Sousa estava com a expressão simpática. Ele interagiu brevemente com Bolsonaro e o vice-presidente Hamilton Mourão ao longo do desfile, entre os quais estava seu lugar original. Ao lado deles, somente as respectivas mulheres e representantes e chefes de Estado da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), como Cabo Verde, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. O incômodo foi atribuído ao cerimonial da Presidência da República.

Vestido com terno e gravata chamativos, nas cores do Brasil, o empresário se exibiu e acenou ao público, de forma ostensiva, atraindo holofotes e manifestações de viés político. Abertamente governista, Hang é investigado por suspeita de envolvimento e financiamento de atos antidemocráticos, o que ele nega.

Além de dividir o espaço com o “intruso”, o Rebelo de Sousa acabou involuntariamente protagonizando outras manifestações de viés político, que contaminaram a cerimônia que deveria estar revestida apenas da institucionalidade.

Perto do fim do desfile, os deputados governistas Coronel Chrisóstomo (PL-RO) e Eros Biondini (PL-MG) levaram à tribuna e estenderam com o presidente uma bandeira nacional alterada, com a foto de um feto estampada e as frases “Brasil sem aborto” e “Brasil em drogas”. Os dois temas de interesse de políticos conservadores brasileiros são parte da agenda moral de Bolsonaro na campanha pela reeleição. Rebelo saiu na foto.

O destaque da presença do português foi reforçada pela ausência dos presidentes do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux. As duas instituições são alvos constantes da ira de bolsonaristas, que pedem intervenção das Forças Armadas.

Rebelo de Sousa queria evitar qualquer vinculação política. O presidente português foi reiteradamente questionado na imprensa de seu país pela presença em Brasília. A justificativa de Rebelo de Sousa era que Portugal não poderia se ausentar das celebrações dos 200 anos de independência da antiga colônia, por causa da relação histórica e da amizade e conexão entre os povos.

Ele tentou se dissociar do viés eleitoral que Bolsonaro imprimiu ao Sete de Setembro – o candidato à reeleição convocou seus apoiadores por meio da propaganda eleitoral gratuita. Portugueses estavam aliviados que Bolsonaro em Brasília tenha ocorrido depois da cerimônia oficial.

O presidente de Portugal não viajou ao Rio com Bolsonaro, por exemplo, para o tributo cívico-militar organizado pelo Exército na orla da Praia de Copacabana, com demostrações das Forças Armadas. Mas eles conversaram na véspera, durante uma agenda bilateral em que, segundo o português, somente trataram a história de Dom Pedro I e da relação entre os povos e países. Nada de política.

O encontro foi cordial, segundo autoridades de Portugal. Havia expectativa sobre os humores da reunião porque, em julho, Bolsonaro cancelou de última hora um almoço com Rebelo, irritado pelo fato de o português ter se reunido com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato líder em pesquisas de intenção de voto. Em 2021, em outro encontro, Bolsonaro causara constrangimento na comitiva por causa de piadas. O governo português, no entanto, já considerava os episódios como superados.

O presidente de Portugal vai discursar no Congresso Nacional na manhã desta quinta-feira, dia 8, durante a sessão solene que os demais chefes de poderes vão comparecer. Ele foi convidado a falar pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), com quem vai jantar na noite desta quarta-feira, na residência oficial do Senado. Segundo o senador, a cerimônia no parlamento será “verdadeiramente cívica” – ele e Luiz Fux, presidente do Supremo, se ausentaram do desfile por entenderem

Rebelo também participou de encontros com a comunidade portuguesa no Distrito Federal, e antes de voltar a Lisboa viajará ao Rio na sexta-feira, dia 9, para atividades no navio-escola Sagres, da Armada portuguesa.

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