Moro abraça bolsonarismo para fugir de isolamento político

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Foto: Marcos Corrêa/PR

Ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro (União Brasil) deu início a um plano para contornar o isolamento político vivido por ele desde que pediu demissão do governo Jair Bolsonaro (PL).

O senador eleito pelo Paraná afirmou a aliados ver pouco espaço para furar a polarização e, por isso, retomou a aliança com Bolsonaro.

Moro quer reforçar sua imagem como um símbolo do antipetismo no país e voltar a andar ao lado do bolsonarismo, de onde vem a maioria do seu apoio político.

Para isso, ele decidiu apoiar Bolsonaro no segundo turno, em que o atual presidente enfrenta Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Procurado pela campanha bolsonarista, Moro declarou voto no presidente e foi ao debate promovido por Folha, UOL, Band e TV Cultura neste domingo (16) ao lado do candidato à reeleição —o ex-ministro foi convidado para provocar e desestabilizar Lula.

Bolsonaro e Moro reataram, mas os termos ainda estão sendo costurados. Moro deverá viajar nesta terça-feira (18) para Madri, na Espanha, para participar de um evento que discutirá democracia e corrupção na América Latina. Ele só deve retornar ao Brasil a uma semana do segundo turno.

Aliados de Moro dizem que a expectativa é que, mesmo na Espanha, o ex-juiz faça um aceno à reeleição de Bolsonaro.

O senador eleito fez uma publicação em rede social logo após o debate: “Fazer a coisa certa agora é derrotar o Lula e o projeto de poder do PT e depois, como senador independente, trabalhar pelo Brasil”.

Em eventual novo mandato de Bolsonaro, Moro afirma a aliados que não deve aderir ao governo como no primeiro governo. Mas as pautas, especialmente relacionadas à segurança pública, são bastante convergentes. Na prática, isso deve colocar os dois bem próximos politicamente.

O entorno de Bolsonaro avalia como explorar politicamente a reconciliação do presidente com o ex-ministro.

Ainda não estão previstos atos públicos em que Moro irá posar ao lado de Bolsonaro.

De acordo com aliados, isso irá depender das conversas entre a campanha e o ex-ministro. A costura tem sido feita pelo ex-secretário de Comunicação Fábio Wajngarten e pelo ministro das Comunicações, Fábio Faria.

Os dois foram ao Paraná para tratar do plano de colocar Moro na equipe de Bolsonaro no debate da TV neste domingo (16).

Além da intermediação via Faria e Wajngarten, Bolsonaro entrou em contato com Moro duas vezes desde que o ex-juiz foi eleito senador pelo Paraná.

Segundo pessoas próximas a Moro, ele avaliou que o cenário político tende a se manter polarizado, o que estreita a margem para uma terceira via. O lava-jatismo não gostou da aliança de Moro com Bolsonaro, mas, de acordo com interlocutores do ex-ministro, o peso político desse grupo é muito menor do que do bolsonarismo e do antipetismo.

Além disso, numa disputa entre Lula e Bolsonaro, Moro não teria como ficar neutro, dizem seus aliados.

O senador eleito afirmou a pessoas próximas que, em 2026, pretende concorrer a uma eleição majoritária, já que o mandato no Senado irá até 2030. Apesar de não descartar a disputa presidencial daqui a quatro anos, Moro também está de olho no Governo do Paraná, cuja vitória se tornaria viável com apoio de bolsonaristas.

Caso Lula vença a eleição presidencial, Moro pretende se destacar como oposição ao petista no Congresso, usando o cargo para ganhar mais projeção nacional e se projetar como líder antipetista.

Num jogo para retomar a relação com Moro no segundo turno, o presidente Bolsonaro voltou a elogiar o ex-ministro nesta segunda (17).

“O homem teve uma forte posição no combate à corrupção do Brasil. Conversei com ele, as pequenas divergências ficaram para o passado”, afirmou Bolsonaro.

Sobre o futuro de Moro, o presidente declarou: “Ele tem uma política própria para ele no Senado, que ele vai tentar levar avante. O objetivo do Moro é o Brasil. E hoje em dia a única hipótese sou eu”.

O clima ameno entre os dois contrasta com o que vinha se desenhando desde o início de 2020, quando o ex-juiz da Lava Jato pediu demissão do ministério.

A acusação, na época, era que o presidente queria aparelhar a Polícia Federal para proteger a família de investigações. Em um vídeo com ministros divulgado posteriormente, Bolsonaro classificou como uma “vergonha” não ter acesso a informações de órgãos de inteligência.

Após as tentativas fracassadas de se viabilizar como pré-candidato ao Palácio do Planalto e de transferência de domicílio eleitoral para São Paulo, Moro decidiu disputar o Senado. A União Brasil foi o partido que o abrigou.

A legenda no estado é comandada por políticos alinhados a Bolsonaro.

Durante a campanha, Moro voltou a flertar com o bolsonarismo, ressaltar o trabalho que teve na Lava Jato e a atacar Lula.

Enquanto a reaproximação de Moro e Bolsonaro é usada como troféu da campanha do PL, o comando da campanha do ex-presidente Lula descarta a ideia de levar ao programa eleitoral a reaparição do ex-ministro ao lado do presidente durante o debate.

Integrantes da coordenação lembram que já foi exibido um filme associando a atuação de Moro à frente da Lava Jato e sua nomeação no governo Bolsonaro.

Segundo um apoiador do ex-presidente, o uso da imagem de Moro poderia dar visibilidade ao ex-ministro, credenciando-o como um porta-voz da oposição em um eventual governo Lula.

Thiago Resende, Matheus Teixeira e Catia Seabra/Folhapress

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