Bolsa tomba sob temor do efeito Jefferson em Bolsonaro; Petrobras cai 10%

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Foto: Paulo Whitaker/Reuters

O mercado financeiro do Brasil trabalhou nesta segunda-feira (24) pressionado pelas preocupações de investidores quanto aos efeitos sobre a campanha à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) da crise envolvendo Roberto Jefferson (PTB).

O aliado bolsonarista e político de extrema direita foi preso pela Polícia Federal depois de tentar resistir à ordem judicial. Jefferson disparou mais de 20 tiros de fuzil e lançou duas granadas contra os agentes. Dois deles ficaram feridos, mas sem gravidade.

No mercado doméstico de ações, a Bolsa de Valores brasileira fechou com expressiva queda. O índice Ibovespa tombou 3,27%, aos 116.016 pontos.

Analistas consideram que, embora seja difícil avaliar o impacto do evento sobre a campanha de Bolsonaro, candidato cuja visão é considerada mais alinhada à do mercado, é possível que a crise envolvendo o bolsonarista tenha gerado aversão ao risco entre investidores e que isso esteja entre os fatores que levaram à queda da Bolsa nesta sessão.

“Tivemos um episódio no fim de semana que, talvez, gere um pouco mais de estresse e jogue areia nos olhos para prejudicar um candidato ou outro”, comentou André Rolha, diretor de produtos da Venice Investimentos.

Nicolas Farto, especialista em renda variável da Renova Invest, comentou que a leitura que o mercado faz neste momento é de que “o efeito pode, sim, ser ruim para o atual presidente.”

Ainda no mercado de ações doméstico, houve forte desvalorização da Petrobras, cujas ações ordinárias mergulharam 10%, segundo dados preliminares.

O tombo da estatal petrolífera ocorreu em um dia de queda apenas moderada do preço de referência do petróleo no exterior. O barril do Brent perdia 0,18% no final da tarde, cotado a US$ 93,33.

DÓLAR DISPARA E REAL É MOEDA COM PIOR DESEMPENHO

O dólar comercial à vista disparou 2,97%, cotado a R$ 5,3010, com o real entregando o pior desempenho tanto na comparação com divisas de países emergentes, quanto em relação às principais moedas globais.

A desvalorização do real, sobretudo em um dia de estabilidade do dólar no mercado internacional como nesta segunda, é um importante indicador de que investidores avaliaram que o risco para investir no Brasil ficou maior.

“É o efeito Roberto Jefferson”, afirmou Douglas Ferreira, diretor da mesa de câmbio da Planner Corretora. “O mercado está volátil hoje e muito disso é por conta dessa coisa inusitada que aconteceu”, comentou Ferreira, que também destacou que o ambiente externo trouxe informações desfavoráveis ao mercado brasileiro nesta segunda.

A desaceleração da economia da China, principal parceiro comercial comercial do Brasil, ligou um sinal de alerta para as ações de exportadores de matérias-primas, que possuem grande peso no Ibovespa.

O PIB (Produto Interno Bruto) da China cresceu 3,9%, abaixo da meta anual de 5,5%, que já é a menor em três décadas. A Bolsa de Hong Kong desabou 6,36% nesta segunda.

A divulgação do dado, adiada da semana passada para esta segunda, ocorre depois que o presidente chinês, Xi Jinping, estendeu seu governo para um terceiro mandato sem precedentes e reforçou seu controle do poder político no 20º congresso do Partido Comunista.

Nos Estados Unidos, o índice de referência da Bolsa de Nova York, o S&P 500, fechou em alta de 1,20% nesta segunda.

O mercado brasileiro registrou nesta segunda uma situação inversa em relação ao quado da semana passada.

Na última sexta-feira (21), o dólar comercial à vista recuou 1,34%, cotado a R$ 5,1480. Com isso, a moeda americana perdeu 3,36% de valor em relação ao real na semana.

Também na semana passada, o mercado de ações brasileiro acumulou alta de 7%, a maior desde novembro de 2020, superando os também fortes ganhos semanais obtidos pelos índices de referência no exterior.

O Ibovespa subiu 2,35% e foi aos 119.928 pontos. Com esse resultado, o indicador parâmetro da Bolsa passou a entregar um retorno de 14,4% em 2022.

As ações ordinárias e preferenciais da estatal Petrobras subiram 3,4% no dia e, com isso, chegaram a uma alta anual na casa dos 90%. Os preços de R$ 41,56 (PETR3) e R$ 37,72 (PTR4) são os maiores valores para esses ativos no registro histórico disponível no site da B3, a Bolsa de Valores do Brasil, que faz o acompanhamento desde 2000.

Além de ganhos pontuais com a valorização de matérias-primas importantes para exportadores brasileiros e a redução das preocupações com a alta de juros no exterior, analistas atribuíram o resultado doméstico ao ânimo de investidores com as pesquisas de intenção de voto que, a uma semana do segundo turno da eleição presidencial, mostram a aproximação entre os candidatos Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O cenário político mostrando a evolução de Bolsonaro trouxe um movimento comprador muito forte de setores da Bolsa que concentram estatais porque “a privatização faz parte do plano de governo do Bolsonaro”, disse Victor Paganini, analista da Quantzed. “O mercado entende que é interessante que haja privatização dessas empresas.”

Na quinta-feira (20), analistas também disseram que empresas foram beneficiadas pela avaliação de investidores de que Bolsonaro, cuja visão é considerada mais alinhada à do mercado, passou a ter chances de vencer o segundo turno após a divulgação, na quarta-feira (19), da mais recente pesquisa Datafolha.

Lula seguia à frente de Bolsonaro, marcando 49% dos votos totais, ante 45% do rival. Os candidatos empatam, portanto, no limite da margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos. Brancos e nulos somam 4% e indecisos, 1%.

Na pesquisa realizada na semana passada, o petista marcava 49% dos votos totais e o atual presidente, 44%.

Clayton Castelani/Folhapress

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