O ex-senador e ex-deputado federal Benedito de Lira (PP), 80, afirma que o apoio dado a Jair Bolsonaro (PL) por ele e pelo filho, Arthur Lira (PP-AL), não é obstáculo para que o presidente da Câmara dos Deputados agora feche uma aliança com Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Rapaz, olha, é o seguinte: você, em política, tem que ter um lado. E ele [Arthur Lira] era um aliado, é um aliado [de Bolsonaro], como presidente da Câmara. Logicamente, isso ajudou muito o município aqui. Eu sou o prefeito, e nós ficamos com ele [Bolsonaro]. Terminou a eleição? Acabou. Vamos pensar no futuro”, disse Benedito em entrevista por telefone à Folha. Ele é hoje prefeito de Barra de São Miguel (AL).
Arthur Lira e o presidente eleito devem ter um primeiro encontro nesta quarta-feira (9), em Brasília.
O presidente da Câmara é um dos principais líderes do centrão, foi eleito para o comando da Casa legislativa em 2021 com o apoio de Bolsonaro e fez uma gestão bastante alinhada ao Palácio do Planalto. Foi ele também o responsável pela aprovação do pacote eleitoral gestado para alavancar a candidatura de Bolsonaro.
“Eu votei no Lula em 2003, votei nele, apoiei o governo dele, apoiei o governo da Dilma [Rousseff]. Não é de agora”, afirmou Benedito de Lira, acrescentando que seguirá a posição que o filho decidir. “Agora, ele é quem manda, eu obedeço”.
Questionado, Benedito respondeu afirmativamente à pergunta sobre se, para a cidade que comanda, o melhor é ter Lula como aliado.
“É lógico, é preciso para as ações serem desenvolvidas, e meu município não tem dinheiro para isso.”
Benedito afirmou ainda que o mais importante para ele é a reeleição do filho para o comando da Câmara, em fevereiro.
Apesar de ser base de apoio de Bolsonaro, o centrão já deu acenos de que aceita, em boa parte, aderir a Lula em troca de apoio do novo governo à reeleição de Lira —ou ao menos a neutralidade do Planalto.
Esse arranjo deve ser discutido no encontro entre Lula e Lira. Se der certo, um eventual acordo pode dar ao petista uma base de apoio suficiente para aprovar emendas à Constituição, que necessita do voto de ao menos 308 dos 513 deputados.
Mesmo que haja união da esquerda (cerca de 120 cadeiras) com alguns dos partidos de centro e de centro-direita, Lula teria uma base precária, de cerca de metade das cadeiras. Ou seja, ele precisará de parte do centrão, formado principalmente por PP, PL e Republicanos —com cerca de 200 cadeiras—, para ter um fôlego maior.
Benedito afirmou que Lira irá ser leal a Lula em caso de acordo entre seu filho e o petista.
“Ele tem esse método de fazer política. Eu disse a ele quando ele se elegeu vereador [1992]: se alguém pedir e você puder fazer, diga que faz e faça. Se não puder, diga logo que não pode e acabou. Eu aprendi na minha vida pública e ensinei a ele que ninguém é obrigado a assumir compromisso. Na proporção que assume, é obrigado a cumprir.”
Além de apoiar Bolsonaro, tanto Lira como o pai, que era senador em 2016, votaram a favor do impeachment de Dilma Rousseff (PT).
“Ele [Lira] logicamente vai fazer o que for o melhor para o Brasil. O Arthur não é radical, ele tem uma postura de muito equilíbrio na Câmara”, disse o prefeito de Barra de São Miguel.
Conforme apontado pela Folha, a cidade governada pelo pai de Lira teve o orçamento turbinado com verbas das emendas de relator. Recebeu R$ 4,7 milhões em 2021 e R$ 5,8 milhões em 2020 por meio dessas emendas e foi o município alagoano que mais obteve esse tipo de recurso proporcionalmente à sua população.
A despeito do forte despejo de verbas, Bolsonaro prevaleceu na cidade por apenas 30 votos: na cidade, foram 2.769 votos para o atual presidente contra 2.739 para Lula.
Lira foi uma das primeiras autoridades a ligar para Lula após o resultado da eleição, ainda no dia 30 de outubro. Na conversa, Lula perguntou ao presidente da Câmara sobre a saúde do pai, de acordo com pessoas que testemunharam a ligação.
Lula e Benedito nunca tiveram relação política próxima, segundo aliados do petista. O presidente eleito foi deputado constituinte, na legislatura 1987-1991. Benedito foi deputado federal a partir de 1995. O mesmo ocorre com Lira, que chegou à Câmara em 2015, quatro anos após Lula encerrar seu segundo mandato na Presidência da República.
Ranier Bragon e Catia Seabra/Folhapress