Espírito do Natal faz a solidariedade quebrar as barreiras do ódio

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Foto: Divulgação

Natal é tempo de renovação, esperança e amor. A data é tradicionalmente celebrada com a reunião de familiares e amigos, partilhando pratos típicos na tão aguardada ceia natalina e trocando presentes uns com os outros. Mas e quem não tem o que comer e nem onde morar? O espírito natalino faz florescer a solidariedade no coração de muitas pessoas que se voluntariam para ajudar a arrecadar alimentos, roupas, brinquedos e produtos de higiene para distribuir aos que estão em vulnerabilidade social, levando acolhimento nessa época marcada por demonstrações de que gestos de amor superam qualquer demonstração de ódio e de preconceito.

Para o rapper ceilandense Japão Viela, a solidariedade combate o ódio quando alguém é capaz de se colocar no lugar do outro. “É necessário ter pensamento coletivo. Trinta e três milhões de pessoas passam fome no Brasil, mas as pessoas se fecharam tanto, que o vizinho pode não ter o que comer e isso não é visto”, reflete o músico. Figura bastante conhecida em Ceilândia, Japão arrecada e doa cestas básicas a famílias que vivem na periferia há 28 anos, sempre ao lado da mãe e da esposa. O trabalho, que começou apenas como uma ação natalina, se ampliou, principalmente depois da pandemia, quando as desigualdades se agravaram.

Mensalmente, o rapper atende 408 famílias, principalmente das regiões do Sol Nascente e Pôr do Sol. Ele estima que, em 2022, tenha distribuído aproximadamente 6 mil cestas básicas. Todo esse trabalho solidário é posto em prática com o esforço e dedicação do rapper e com a ajuda de familiares, amigos e pessoas que se voluntariam. Japão comenta que o Natal é tempo de renovação da esperança e que é inaceitável que haja pessoas que não tenha o que comer. Ele acredita que, se o próximo estiver se alimentando de forma adequada, terá cumprido um objetivo de vida. Conheça a seguir outras histórias de voluntários que transformam o Natal de quem mais precisa. Japão promoveu, ontem, mais uma ação no Sol Nascente.

Sempre presentes

Na avaliação da servidora do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) Rosana Furtado Clemens Borges, o Natal é o ponto alto do amor. “É o tempo onde a generosidade e a solidariedade pulsam forte em nossos corações. Acredito que a memória do nascimento de Cristo, o amor nele personificado, faz brotar em nossos corações a vontade de expressar nossa gratidão pelo que temos”, conta.

Rosana criou o grupo Voluntários do Amor em abril de 2017. A iniciativa, que surgiu dentro da família, se expandiu e hoje conta com 148 pessoas. “Um primo meu, o Rômulo, me convidou para servir uma sopa para as pessoas em situação de vulnerabilidade e que moram nas ruas. A partir daí, demos impulso ao projeto e começamos a servir sopas com 10 pessoas da família. Logo em seguida, fui chamando as pessoas do meu trabalho e amigos”, lembra Rosana.

Todos os meses, o coletivo distribui, em média, 200 cestas básicas, em parceria com líderes comunitários das regiões do DF e Entorno, como Samambaia, Miguel Lobato, São Sebastião e Águas Lindas. Além de alimentos, o grupo ajuda quem precisa com remédios, exames e enxovais para as mamães. “Ajudamos também com cadeiras de rodas. Inclusive, tem uma senhora, a Áurea, que recebe esses equipamentos quebrados e conserta”, pontua a servidora.

Um dos principais projetos do grupo de voluntários, formado majoritariamente por integrantes do MPDFT, foi a compra de uma casa em Palmital, no município de Cabeceira Grande (MG). A aquisição foi doada para a família do menino Gabriel, que, à época, tinha 2 anos e hoje, 6. Ele foi diagnosticado com neuroblastoma, um câncer infantil que cresce em partes do sistema nervoso.

Segundo Rosana, o voluntariado é uma troca de afetos e de aprendizado. “Você dá e recebe em dobro, é a troca de alegria, de gratidão, de generosidade. É uma mão com duas vias. Você vai achando que está levando muito, mas na verdade volta com uma bagagem bem maior”, diz.

Vidas transformadas

Em Samambaia Norte, os altruístas do Instituto Solidário à Vida atuam ajudando crianças com deficiência e doenças crônicas. O atendimento se estende para o DF e o Entorno, por meio de campanhas e doações. A presidente da instituição, Jecilda Felix Costa, conta que o Natal é o período em que o instituto consegue arrecadar mais recursos e doar para as 30 crianças e famílias em vulnerabilidade social. O instituto arrecada suplementos alimentares, fraldas, cestas básicas, roupas e itens de higiene. “O Natal significa muito para a gente, é tempo de renovação e as pessoas doam mais. Elas nos ajudam a transformar mais vidas”, destaca.

Garantir segurança alimentar às crianças e famílias atendidas e contribuir para a construção de uma sociedade mais justa e fraterna são alguns dos principais objetivos do instituto. “O atendimento é feito a crianças portadoras de paralisia cerebral, displasia óssea, hidrocefalia, epilepsia, desnutrição, entre outras. São prestados serviços de ajuda material e, ocasionalmente, temos apoio jurídico e psicológico, por meio de um trabalho qualificado e inovador”, frisa Jecilda.

Amor em ação

Com o lema ‘amor em ação’, o Serviço Auxiliar de Voluntários (SAV) atua no Hospital de Base de Brasília, atendendo pacientes com cadeiras de roda, muletas, cadeiras de banho e itens de higiene. O trabalho se estende por todo o ano. “Temos cerca de 100 voluntários atendendo na aplicação de Reiki, no auxílio às UTI’s com músicas, artesanatos, apoio ao leito — que é um apoio emocional — , e terapia ocupacional”, explica a voluntária Marleide Dias da Costa.

Para Marleine, o voluntariado faz parte da “essencialidade da vida”. “É você tocar o coração do outro, atuando com alegria, disposição, palavra amiga e afeto. É levar um pouco de alento, atendendo as necessidades temporais e afetivas dos pacientes do hospital”, comenta. Essa essência, segundo a voluntária, faz parte do espírito do Natal.

Acolhimento

“Todo mundo gosta de passar com suas famílias, mas e quem não tem família?” Essa foi a pergunta que guiou o projeto Natal Coletivo, da igreja Coletivação, em Ceilândia, surgido em 2017. Otávio Damichel Marques conta que o trabalho de acolhimento não é direcionado apenas às pessoas em vulnerabilidade social, mas também emocional. “Às vezes, a pessoa está brigada com a família, por conta de política ou rejeição. O Natal Coletivo é para que essas pessoas tenham uma mesa para sentar e partilhar”, afirma.

Hoje, a partir de 17h, a equipe receberá pessoas em situação de rua para tomar banho e vestir uma roupa limpa para participar da ceia natalina. A comunidade da Coletivação enxerga o Natal como “o lugar para compartilhar a mesa. E é por isso que a gente não entrega marmitas na rua, mas preparamos o ambiente, decoramos, deixa bem arrumado para receber as pessoas para sentar à mesa conosco”, diz Otávio

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