Após 24 horas de velório e cortejo pelas ruas de Santos, corpo do ex-jogador descansa no cemitério Memorial.
esta terça-feira (3), o corpo de Edson Arantes do Nascimento se descolou de Pelé.
O homem que morreu aos 82 anos foi sepultado no Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, depois de 24 horas de velório na Vila Belmiro e de um cortejo de três horas e meia pelas ruas da cidade que lhe deu projeção mundial.
O último ato diante do público, quando o caixão foi retirado do caminhão de bombeiros, ocorreu ao som de uma marcha fúnebre e sob uma leve garoa, que refrescou os presentes depois de um intenso calor ao longo de todo o dia.
Já em solo, o corpo foi carregado para o interior do espaço ao som do hino do Santos e, na sequência, pelo hino religioso Segura na Mão de Deus. No interior, apenas familiares acompanharam o sepultamento, em uma cerimônia de 25 minutos.
Pelas ruas, no entanto, o mito continua vivo. Suas histórias e feitos foram recontados e exaltados por milhares de torcedores ao redor do mundo nos últimos seis dias, desde a confirmação da morte de Edson, no último dia 29 de dezembro, em São Paulo.
Entre segunda (2) e terça-feira (3), segundo levantamento divulgado pelo Santos Futebol Clube, mais de 230 mil pessoas passaram pela Vila Belmiro para prestar uma homenagem ao ídolo. Um número inestimável de fãs acompanhou o cortejo a pé, acenando das janelas das casas e apartamentos ou mesmo a distância, pela televisão.
Mais do que se despedir daquele que havia desencarnado, todos queriam demonstrar gratidão pelas alegrias proporcionadas pelo único jogador na história a conquistar três Copas do Mundo e o primeiro a fazer mais de mil gols.
Por isso muitos sorriam, sobretudo aqueles que tiveram a chance de ver de perto o corpo do Rei do futebol. Ficar próximo dele sempre foi motivo de euforia, especialmente para os santistas que o viram desfilar no estádio da Vila Belmiro.
Mil gols, mil gols, mil gols… só Pelé, só Pelé, que jogou no meu Santos”, eles gritavam ao longo do velório e do cortejo.
Por volta das 10h, pela última vez, Pelé deixou o gramado da Vila. Minutos antes, entre os últimos visitantes, os familiares do ídolo receberam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Ao se aproximar do caixão, Lula abraçou os parentes do Rei. Pouco depois, foi iniciada uma cerimônia religiosa. O presidente ficou ao lado do padre Javier Mateo Arana, da diocese de Santos.
O celebrante destacou a relação de Pelé com a mãe, dona Celeste, de cem anos, e chegou a citar Maradona e Di Stéfano. Os presentes rezaram um pai-nosso e uma “Ave Maria”.
“O Pelé simboliza a ascensão da espécie humana. […] Ele foi um jogador que, muito jovem, ganhou um protagonismo extraordinário”, afirmou Lula.
Quando o caixão deixou o estádio e foi colocado no caminhão de Bombeiros, uma comoção tomou as ruas da Baixada Santista.
Ana Rita Santos, 24, que trabalha em uma loja na avenida Ana Costa, teve permissão da chefe para ir até o canteiro central da Presidente Wilson presenciar a passagem do Rei.
“Vai com Deus, Pelé”, gritava ela, que se diz santista doente. “Lá em casa todo mundo é”, afirmou emocionada e com lágrimas nos olhos.
Em alguns trechos do trajeto percorrido pelo cortejo, pessoas nas sacadas de suas casas e nas janelas dos apartamentos jogaram pétalas de rosas.
O caminhão passou na frente da casa de Celeste Arantes, mãe de Pelé, no canal 6. Emocionada, a irmã do Rei, Maria Lúcia, foi à varanda, acenou e se despediu do irmão.
A mãe de Pelé não apareceu. Aos cem anos e com saúde fragilizada, ela vive sob cuidados de “home care”.
Sob aplausos e gritos de “Pelé”, a multidão que se aglomerou em frente a casa de dona Celeste se mostrava emocionada. O caminhão ficou cerca de 15 minutos parado no local. E, cada vez que andava alguns metros, era aplaudido.
Dezenas de motociclistas fizeram um buzinaço no canal 6 após a passagem do corpo.
Os santistas eram maioria nas ruas, mas torcedores com camisas de vários clubes do Brasil também foram vistos acenando para o cortejo.
Os corintianos Jonatas do Prado Nascimento, 33, e Daniel José da Costa, 41, de Peruíbe, chegaram cedo à esquina do cemitério vertical Memorial Necrópole Ecumênica, onde o Rei fora enterrado.
A cerimônia estava reservada à família, portanto eles ficaram no último trecho em que puderam ter contato com o cortejo.
“Alguns atletas são capazes de transcender rivalidades”, disse Jonatas. “O Pelé é um deles”, acrescentou Daniel.
“Na Copa, a gente viu um pouco disso com o Messi. Independente da Argentina, muita gente estava torcendo por ele. Com o Pelé, foi assim a carreira dele toda”, finalizou Jonatas.
Todo o carinho dedicado ao Rei confortou os familiares dele, que aplacaram a tristeza pela perda com a certeza de que sua memória estará para sempre presente.
“O sentimento maior de toda a família é gratidão. Junto com a dor, mas é de gratidão. Muito obrigado a todos […]. É difícil, mas é uma honra, um orgulho muito grande. Mais uma vez obrigado, agora ele vai descansar”, resumiu Edinho.