Premeditação e ligação entre criminosos: chacina foi planejada há 3 meses

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Foto: Carlos Vieira/CB

Dez corpos, três presos e ambição financeira. A maior chacina do Distrito Federal revelou a crueldade, frieza, articulação e premeditação de três assassinos presos por executar 10 pessoas da mesma família, incluindo três crianças. Há pelo menos três meses, Horácio Carlos, 49 anos, Gideon Batista de Menezes, 55, e Fabrício Silva Canhedo, 34, se uniram para planejar um dos crimes mais bárbaros de todo o país. Com a identificação de dois dos três corpos encontrados dentro de uma fossa, em Planaltina, a Polícia Civil (PCDF) encaixa mais uma peça no quebra-cabeça e se aproxima da elucidação. Nesta terça-feira (24/1) à noite, militares apreenderam um adolescente, de 17 anos, por suspeita de participação no crime.

Das 10 pessoas da mesma família dadas como desaparecidas, nove tiveram as identidades confirmadas: a cabeleireira Elizamar da Silva, 37, e os filhos, Gabriel, 7, e os gêmeos Rafael e Rafaela, 6; o marido dela, Thiago Belchior, 30; os sogros de Elizamar, Renata Juliene Belchior, 52, e Marcos Antônio Lopes, 54; a filha de Renata, Gabriela Belchior, 25; e a ex-mulher de Marcos, Cláudia Regina, 55. A polícia aguarda o laudo do Instituto Médico Legal (IML) para identificar o terceiro corpo encontrado na fossa. Trata-se de uma pessoa do sexo feminino, que, para os investigadores, é a filha de Cláudia, Ana Beatriz, 19.

Os cadáveres de Thiago, Cláudia e da terceira pessoa foram jogados em uma fossa, no Núcleo Rural Santos Dumont, em Planaltina. O local é de extensa área de mata e foi escolhida pelos criminosos para ponto de desova. O buraco tem quase dois metros de profundidade e apresentava vestígios de sangue. Na tentativa de abafar o odor, os assassinos colocaram cal ao redor da cova, mas sem sucesso. Na noite de segunda-feira, policiais chegaram ao local depois que um dos presos, ao ser novamente interrogado, revelou a região onde estavam os corpos.

Identidades

Mesmo com os cadáveres em avançado estado de decomposição, em menos de oito horas, peritos papiloscopistas da PCDF identificaram dois dos três cadáveres por meio da análise das impressões digitais feita no laboratório de necropapiloscopia do Instituto de Identificação (II).

Durante a tarde, os médicos legistas do IML de Minas Gerais confirmaram também as identidades de Renata e Gabriela. Mãe e filha foram mantidas em cárcere privado e, depois, assassinadas e carbonizadas dentro de um carro, em uma via de Unaí (MG). O veículo estava em nome de Marcos Antônio e foi localizado com os dois corpos na manhã de sábado, menos de 12 horas depois de Elizamar ter sido encontrada morta com os três filhos em Cristalina (GO).

A apreensão do adolescente efetuada ontem por policiais militares pode ajudar no quebra-cabeças. Os PMs receberam uma denúncia anônima informando que um dos suspeitos de participar da chacina estaria escondido em uma casa, no Itapoã. Ao chegarem no endereço, o menor foi confrontado com as informações e confessou o envolvimento na chacina.

Em depoimento prestado na 6ª Delegacia de Polícia (Paranoá), o adolescente contou que foi contratado por Horácio Carlos para fazer a mudança dos móveis da casa de Marcos Antônio, no Condomínio Residencial Novo Horizonte, para a residência onde funcionou o cativeiro, em que Renata, Gabriela, Cláudia e Ana Beatriz foram mantidas como reféns. Em troca, ele receberia R$ 5 mil pelo serviço, sendo R$ 2 mil antes, e R$ 3 mil depois.

A casa para onde os objetos foram levados, localizada na Vila do Sol, em Planaltina, foi alugada em outubro por Horácio. Por isso, a polícia desconfia que o crime tenha sido planejado há, pelo menos, três meses. No local, mães e filhas tiveram as mãos amarradas, foram amordaçadas e vendadas e, mediante ameaça, foram obrigadas a passar dados bancários para os criminosos.

A hipótese de que a motivação da chacina seja financeira é reforçada mediante aos itens encontrados no imóvel. Ao menos oito cartões bancários, talão de cheque, certidões, documentos pessoais das vítimas e cadernos com anotações financeiras foram apreendidos pelos investigadores. Além disso, a polícia encontrou R$ 15 mil em espécie na casa de um dos presos e R$ 40 mil em uma conta.

Ligação

Os próximos passos da investigação vão se concentrar na ligação entre cada um dos suspeitos e na busca por Carlemom dos Santos, 26, considerado foragido. Fontes policiais informaram ao Correio que o mentor dos assassinatos é Gideon Batista. O homem era colega de Marcos e os dois moravam próximos. À reportagem, uma pessoa ligada à família disse, sem revelar a identidade, que Marcos foi o responsável por abrigar Gideon em um dos lotes próximos da chácara.

Era comum os dois conversarem e até frequentarem a casa um do outro. Gideon acumula antecedentes criminais, incluindo uma tentativa de latrocínio, fugas de presídio e roubos. Em imagens colhidas pela polícia, o criminoso sempre aparecia de carro sempre seguindo o veículo onde estavam as vítimas. As investigações revelam, ainda, que era ele o responsável por atear fogo nos automóveis e nos corpos.

Gideon está detido em uma cela isolada, no Centro de Detenção Provisória (CDP2) do Complexo Penitenciário da Papuda. Fabrício e Horácio seguem no Complexo da Polícia Civil.

A PCDF pediu também a quebra do sigilo telefônico e bancário das vítimas e dos autores da chacina. Os investigadores pretendem descobrir os valores movimentados pelos criminosos. “Chegamos ao indício de que o Horácio tinha cerca de R$ 40 mil na conta e o Gideon, R$ 10 mil em espécie, além de R$ 4 mil depositados na conta da namorada”, descreve o delegado-chefe da 6ª DP, Ricardo Viana. Ele continua: “Essas pessoas foram levadas para os cativeiros e lá foram extraídos suas senhas e cartões. Para a investigação, essas vítimas foram extorquidas com armas de fogo e violência”.

Até o fechamento desta edição, Carlemom não havia sido preso. O homem teve as impressões digitais encontradas no cativeiro e no carro de Gideon, o mesmo utilizado para comprar galão de gasolina em um posto de combustível do Paranoá. Carlemom é integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC) e acumula antecedentes por roubo, receptação, porte ilegal de arma de fogo e corrupção de menores.

Estagiária sob a supervisão de Patrick Selvatti/Correio Braziliense

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