A Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão no Rio Grande do Norte propôs à Justiça ação civil pública contra a União por “conduta ativa e dolosa dos então comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica à época das manifestações e acampamentos antidemocráticos”.
Segundo o documento, a cúpula militar estimulou a manutenção e continuidade dos acampamentos golpistas pelo país, incluindo o que foi montado em Natal, ao emitir nota em 11 de novembro de 2022 na qual considerava os atos dos apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que incitavam a animosidade contra os demais Poderes como legítimo exercício de liberdade de expressão e reunião.
Os procuradores da República entenderam que a conduta dos então chefes das Forças foi “um episódio de politização militar em ofensa ao artigo 142 da Constituição”.
Na ação, o MPF (Ministério Público Federal) argumenta que as condutas dos militares contribuíram para que ocorressem os atos golpistas de 8 de janeiro. O valor da ação é R$ 5 milhões.
Além da União, a Procuradoria processa o deputado federal bolsonarista General Girão (PL-RN), o estado do Rio Grande do Norte e o município de Natal.
O MPF diz que Girão usou as redes sociais “em claro abuso da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar, para encorajar condutas que atentavam contra a ordem democrática”, inclusive a continuidade de acampamento montado em frente a uma unidade do Exército na capital potiguar.
A reportagem entrou em contato com o gabinete do parlamentar, mas ainda não houve resposta.
As administrações estadual e municipal, por sua vez, são acusadas de omissão na proteção à democracia ao permitirem a manutenção de acampamentos golpistas.
No comunicado a que se referiu a Procuradoria, divulgado quase duas semanas após a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), os comandantes de Marinha, Exército e Aeronáutica abordaram os atos antidemocráticos realizados em diferentes pontos do país por bolsonaristas inconformados com a derrota nas urnas. O texto estava recheado de recados indiretos ao Judiciário.
“São condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade”, afirmaram.
A nota foi assinada pelo almirante Almir Garnier Santos (Marinha), pelo general Marco Antônio Freire Gomes (Exército) e pelo tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Junior (Aeronáutica).
Para os procuradores da República Victor Manoel Mariz, Emanuel De Melo Ferreira e Fernando Rocha de Andrade a iniciativa dos ex-comandantes demonstrou “politização inconstitucional das Forças Armadas e estimulou a manutenção dos atos antidemocráticos e golpistas em frente aos quartéis a partir do desenvolvimento da narrativa de que as eleições foram fraudadas, fomentando a busca pela quebra da ordem democrática”.
Os representantes do MPF afirmaram que “as pessoas reunidas nesses acampamentos defenderam o fechamento do Supremo Tribunal Federal e a necessidade de uma intervenção federal, feita por militares, para ter-se um verdadeiro golpe de Estado”.
“Tratou-se de reunião realizada por associação antidemocrática, não protegida pela liberdade de expressão e reunião, incitando animosidade entre Forças Armadas e Poderes constituídos”.
Marcelo Rocha/Folhapress
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