Foto: Divulgação
Nos anos 80 apareceu por Paulo Afonso na Bahia um senhor vindo de Garanhuns, Pernambuco. Ele era, como se diz por aqui, “um pintor de mão cheia”. Foi logo se integrando à juventude que estava disputando a prefeitura da cidade na eleição de 1985. Foi a primeira para prefeito após o golpe de 64.
Vencida a eleição com Zé Ivaldo, então com 21 anos, Seu Jorge se integrou à equipe da administração na assessoria de comunicação. Ficou responsável pelas confecções das faixas com anúncios de ações e obras da prefeitura.
Na equipe de governo muitos, mesmo no MDB – Movimento Democrático do Brasil e já no PT – Partido dos Trabalhadores, faziam parte do PCB – Partido Comunista do Brasil na ilegalidade. Ainda eram tempos sombrios e que eram enfrentados nas ruas e nas disputas eleitorais que precederam a luta pelas diretas já no Brasil.
Pois essa turma, em 1986, resolveu fazer um congresso do PCB na cidade. O convite foi passado de pessoa a pessoa, sem nada escrito ou qualquer meio que pudesse ser descoberto. Mesmo na administração do município, os cuidados eram enormes naqueles dias. O encontro seria em um domingo de maio na escola João Bosco Ribeiro.
Naquele domingo, por volta das 09:00, se deu um encontro inusitado em frente a escola. É que Seu Jorge, o velho comunista, que não sabia onde ficava o local do congresso, se encontrou com Moreira, que também participaria. Os dois não se conheciam ainda. E se deu o seguinte dialogo:
– Bom dia! Você poderia me informar se é essa a escola João Bosco: Perguntou Seu Jorge.
Já assustado, Moreira diz que não sabia. E emendou.
– Mas hoje é domingo e não tem aula nas escolas.
Foi quando ouviu.
– Não é aula. É que vai ter um congresso do Partido Comunista nela.
Moreira grelou os olhos naquele velho comunista e saiu do local.
Seu Jorge soube, por outra pessoa que passava por lá, que a escola era aquela que ele estava na frente. Foi recebido pelos participantes com entusiasmo e participou o dia todo do evento.
Moreira não apareceu naquele dia. Sua falta foi sentida pelos presentes no domingo, e nos dias que se seguiram também. Três dias depois descobrimos que Moreira nem tinha ido ao trabalho e estava em sua casa trancado a sete chaves.
Descoberto seu paradeiro, fomos a casa dele saber o que tinha acontecido. E foi aí que ficamos sabendo que após a conversa com “um homem com cara de policial federal” que o abordou na rua no domingo, ele saiu de lá às pressas com medo de ser preso. O federal era Seu Jorge, o comunista. Rimos um bocado da situação e nunca mais Moreira participou das reuniões do PCB em Paulo Afonso, mesmo continuando a conviver na política conosco durante os anos seguintes e até hoje.
Dimas Roque.
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