Jair Bolsonaro (PL) já traçou planos para continuar “100% ativo” na política após o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) declará-lo inelegível. O ex-presidente, 68, somente estará apto a se candidatar novamente em 2030, aos 75 anos, ficando afastado portanto de três eleições até lá (sendo uma delas a nacional de 2026).
Bolsonaro e aliados querem usar os holofotes para investir na imagem de que o ex-mandatário seria vítima de um processo injusto.
O discurso começa por apontar diferenças no tratamento dado ao seu caso e ao processo, também analisado pelo TSE, sobre a chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB).
Em 2017, a corte eleitoral absolveu a chapa formada por Dilma e Temer. Além de a ação ter corrido de forma mais demorada, aliados do ex-presidente apontam que naquela ocasião o TSE não admitiu a inclusão de elementos que não estavam nos autos desde o início do processo —ao contrário do que ocorreu no caso de Bolsonaro.
No dia 22, poucas horas antes de o TSE começar a julgar o seu caso, Bolsonaro disse ao jornal Folha de S.Paulo que gostaria de seguir ativo na política.
“Na minha idade, [o que] gostaria de fazer, continuar ativo 100% na política. E, tirando seus direitos políticos que, no meu entender, é uma afronta isso aí, você perde um pouquinho desse gás”, disse.
A atuação que Bolsonaro pretende manter é focada no seu cargo de presidente de honra do PL. Ele assumiu o posto quando retornou ao Brasil dos Estados Unidos, para onde havia viajado nos últimos dias do ano passado como forma de não cumprir o tradicional rito da passagem da faixa presidencial para o seu sucessor.
O partido alugou uma sala comercial em Brasília para o ex-presidente trabalhar. Também passaram a ocupar cargos no PL a ex-primeira dama Michelle Bolsonaro (presidente do PL Mulher) e o ex-ministro Braga Netto.
Segundo aliados, Bolsonaro recebe no local parlamentares, prefeitos e vereadores, entre outros. Esses políticos usam muitas vezes uma foto ao lado do ex-presidente como trunfo em suas bases.
Outra rotina que Bolsonaro quer manter é a de viagens. Enquanto o TSE realizava a primeira sessão do julgamento de seu caso, no dia 22, Bolsonaro participava de encontro com caminhoneiros no Rio Grande do Sul.
No domingo (25), ele esteve em São Paulo para acompanhar jogo de futebol entre Palmeiras e Botafogo. A expectativa é que ele faça viagens semanais daqui para frente.
O ex-presidente virou o principal ativo político do PL, que quer mantê-lo como cabo eleitoral.
De acordo com interlocutores da legenda, Bolsonaro tem valor eleitoral independentemente do resultado do TSE. A avaliação é que ele tem forte potencial de transferência de votos a candidatos da direita.
Além do mais, esses potenciais candidatos não necessariamente carregam a rejeição associada a Bolsonaro, algo que também é visto como um trunfo pelo PL.
Nos bastidores, há uma discussão sobre eventuais nomes que poderiam ser os sucessores de Bolsonaro. São frequentemente citados os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Paraná, Ratinho (PSD). O nome da senadora e ex-ministra Tereza Cristina (PP-MS) também já foi mencionado.
O próprio Bolsonaro evita o tema para, nas palavras dele, não “jogar a toalha”.
“Desculpa aqui, não gosto de falar no ‘se’ [for declarado inelegível]”, afirmou à Folha dia 22.
“A gente não pode partir dessa linha [inelegibilidade], que [eu] estaria jogando a toalha. O que que eu vejo, qual a acusação principal contra mim? Reunião com embaixadores. Isso é crime? Dois meses antes dessa minha reunião, o senhor Edson Fachin [ministro do Supremo] se reuniu com embaixadores também. A política externa é privativa do presidente da República”.
Bolsonaro foi julgado em uma Aije (ação de investigação judicial eleitoral) movida pelo PDT em agosto de 2022 e que pedia inelegibilidade do ex-chefe do Executivo.
A Aije foi a primeira ação que pediu a derrubada da chapa de Bolsonaro por causa do discurso feito pelo então presidente a embaixadores estrangeiros em julho do ano passado. Na ocasião, ele disparou contra a credibilidade do sistema eleitoral brasileiro.
A legenda afirmou que ele praticou abuso de poder político e fez uso indevido dos meios de comunicação, o que sua defesa nega.
Ainda que alguns aliados vejam com desconfiança a energia que Bolsonaro promete dedicar à política, há quem afirme que ele tem abraçado a tarefa de fazer política partidária.
Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, presidente do PL, têm discutido as candidaturas nos principais centros.
O ex-mandatário, por exemplo, tem falado em defesa do seu ex-ministro do Turismo, Gilson Machado. Ele insiste para que Machado tenha o apoio do partido para disputar a prefeitura de Recife. O ex-ministro não teve bom desempenho eleitoral quando tentou ser eleito para o Senado no ano passado.
Já em Goiás, a queda de braço entre o dirigente e presidente de honra do PL teve outro desfecho. Bolsonaro queria lançar o ex-deputado Major Vitor Hugo para prefeito da capital do estado. Com 14,81% dos votos quando disputou o governo de Goiás no ano passado, não conseguiu convencer o PL de entregar a legenda em Goiânia.
De acordo com interlocutores, o partido aceitou lançar Vitor Hugo para a prefeitura de Anápolis (GO), território com amplo eleitorado bolsonarista.
Marianna Holanda/Folhapress/Foto: Divulgação
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