Leite defende bloco Sul-Sudeste lançado por Zema, e governadores do NE falam em ‘estímulo à cisão’

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O anúncio pelo governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), em entrevista ao Estadão, de uma frente para “protagonismo” das regiões Sul e Sudeste colocou de lados opostos os gestores estaduais do Norte e Nordeste e os colegas das outras regiões. O nome do governador mineiro foi o tema de política mais comentado do País no Twitter.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), saiu em defesa da frente anunciada por Zema. O tucano foi um dos líderes apontados pelo mineiro como potencial candidato à Presidência nas próximas eleições. De acordo com Leite, o que o grupo quer é agir por mais equilíbrio na reforma tributária e não “discriminar” nenhuma região.

“Nunca achamos que os Estados do Norte e Nordeste haviam se unido contra os demais Estados. Ao contrário: a união deles em torno de pautas de seus interesses serviu de inspiração para que, finalmente, possamos fazer o mesmo, nos unirmos em torno do que é pauta comum e importante aos estados do Sul e Sudeste”, disse o governador gaúcho à reportagem.

Pelas redes sociais, Eduardo Leite afirmou que a frente não tem nada a ver com “Estado contra Estado, ou região contra região”.

Zema afirmou que os governadores do Sul e do Sudeste querem mais “protagonismo” na política e na economia e vão agir em bloco para evitar perdas econômicas contra as outras regiões. Além disso, o governador de Minas estimulou o lançamento de um candidato de direita do grupo à Presidência nas eleições de 2026.

“Ficou claro nessa reforma tributária que já começamos a mostrar nosso peso. Eles queriam colocar um conselho federativo com um voto por Estado. Nós falamos, não senhor. Nós queremos proporcional à população. Por que sete Estados em 27, iríamos aprovar o quê? Nada. O Norte e Nordeste é que mandariam. Aí, nós falamos que não. Pode ter o Conselho, mas proporcional. Se temos 56% da população, nós queremos ter peso equivalente”, afirmou Zema ao Estadão.

“Está sendo criando um fundo para o Nordeste, Centro-Oeste e Norte. Agora, e o Sul e o Sudeste não têm pobreza? Aqui todo mundo vive bem, ninguém tem desemprego, não tem comunidade? Tem, sim. Nós também precisamos de ações sociais. Então Sul e Sudeste vão continuar com a arrecadação muito maior do que recebem de volta? Isso não pode ser intensificado, ano a ano, década a década”, emendou o governador. “Já decidimos que além do protagonismo econômico que temos, porque representamos 70% da economia brasileira, nós queremos – que é o que nunca tivemos – protagonismo político”, concluiu.

Já o governador da Paraíba e presidente do Consórcio Nordeste, João Azevêdo (PSB), afirmou que Zema cometeu equívocos e foi “infeliz” nas declarações. Para Azevêdo, o governador mineiro estimula uma divisão entre as regiões no País e não deve ter o apoio dos demais gestores estaduais na mobilização.

“É um grande equívoco quando se estimula uma divisão no País, que já foi dividido pelo processo eleitoral. Estamos em um processo de reconstrução e aí vem alguém e faz uma declaração dessa”, afirmou ao Estadão.

De acordo com o governador da Paraíba, Zema errou ao dizer que Sul e Sudeste ficaram para trás nas discussões econômicas e políticas do País porque, durante o processo de formação e desenvolvimento do Brasil, foram as regiões Nordeste, Norte e Centro-Oeste que ficaram prejudicadas.

“Fica difícil de entender se é desconhecimento ou realmente uma intenção clara de criar uma cisão entre regiões, o que não é de interesse de ninguém”, disse o presidente do Consórcio Nordeste. “Eu nunca ouvi isso dos outros governadores do Sul e do Sudeste. É um grande equívoco e foi uma infelicidade muito grande do companheiro Zema.”

Aliado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o líder do Consórcio Nordeste vinculou as declarações de Zema às eleições do ano passado, ao dizer que a fala é um “resquício” da derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). “Ele apoiou um candidato que foi derrotado e talvez não tenha entendido que o processo passou e que estamos em um novo momento neste país.”

Neste domingo, 6, o Consórcio Nordeste publicou uma nota assinada pelo governador da Paraíba para rebater Zema. “Ao defender o protagonismo do Sul e Sudeste, (Zema) indica um movimento de tensionamento com o Norte e o Nordeste, sabidamente regiões que vem sendo penalizadas ao longo das últimas décadas dos projetos nacionais de desenvolvimento”, diz o documento.

Governadores e outros líderes políticos avaliam que a fala de Zema tem uma explicação clara no curto prazo: as disputas em torno da reforma tributária. O tema dividiu os Estados em dois blocos. De um lado, governadores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com maioria no Senado, que se sentiram prejudicados com o texto aprovado pelos deputados federais. De outro, Sul e Sudeste, com maioria na Câmara.

Os governadores do Norte, Nordeste e Centro-Oeste montaram até um grupo no WhatsApp para discutir a atuação conjunta na tributária. No sábado, 5, o que repercutiu no grupo foi a entrevista de Zema. O bloco se mobiliza para aumentar os recursos destinados às duas regiões e reverter o poder do Sul e do Sudeste no conselho que será formado para resolver os entraves tributários.

De acordo com Zema, as regiões Sul e Sudeste têm mais de 50% da população e são as que mais produzem, mas não recebem o mesmo retorno quando o assunto envolve benefícios financeiros e políticos. Uma das frases que mais incomodou lideranças do Nordeste foi comparar o processo a “dar um tratamento bom para as vaquinhas que produzem pouco e deixar de lado as que estão produzindo muito”, nas palavras do governador de Minas.

“No momento em que o nosso país mais precisa de união, o governador Zema, de Minas Gerais, em sua entrevista ao Estadão, revela-se o maior inimigo da federação brasileira. Quem apostar contra a união do povo brasileiro vai perder”, disse o governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT), nas redes sociais.

“Uma declaração dessa é muito ruim porque a pobreza se concentra no Norte e no Nordeste. Sul e Sudeste não querem abrir mão do que eles têm em termos de competitividade, mas é necessário um equilíbrio. É muito perigoso estabelecer um cabo de guerra entre as regiões e colocar uma população contra a outra“, afirmou o governador do Amazonas, Wilson Lima (União), ao Estadão.

Wilson Lima, que se apresenta como um político de direita, assim como Zema, disse que busca por um candidato para 2026 precisa estar separada. Quando o assunto é recurso para o Estado, ele fica ao lado dos colegas do Norte e do Nordeste. “A reforma tributária está acima de qualquer questão partidária. Eu sou de direita, todo mundo sabe disso, mas procuro um caminho de equilíbrio.”

A fala de Zema também foi criticada por um colega do Sudeste, o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB), outro aliado de Lula. “Sobre a entrevista do Governador Zema (MG) para o jornal Estado de SP, é importante deixar claro que é sua opinião pessoal. O ES participa do Cosud (Consórcio de Integração Sul e Sudeste) para que ele seja um instrumento de colaboração para o desenvolvimento do Brasil e um canal de diálogo com as demais regiões”.

As críticas a Zera vieram ainda de seu próprio estado. O deputado Aécio Neves (PSDB-MG), ex-governador de Minas, afirmou que é preciso se articular para defender os interesses locais, mas “jamais estabelecendo alvos ou discriminando regiões.” “Infelizmente, o governador Zema, talvez por não ter se expressado da forma adequada, acabou por criar mais problemas que as soluções que busca”, escreveu o tucano em nota.

Estadão/Foto: Maurício Tonetto/Divulgação

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