Após meses de clima de beligerância, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se reuniu pela primeira vez, nesta quarta-feira (27), desde que assumiu o Executivo com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no Palácio do Planalto.
O encontro, segundo o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, serviu de início de construção de uma relação e também houve uma “pactuação” para que essas reuniões sejam mais frequentes.
O princípio de aproximação ocorre após duas reduções sucessivas da taxa básica de juros —a Selic— pelo Copom (Comitê de Política Monetária), do BC, o que era uma demanda e alvo de críticas de Lula.
“Penso que foi um encontro institucional, de construção de relação, de pactuação em torno de conversas periódicas, foi excelente”, afirmou Haddad, ao voltar ao Ministério da Fazenda.
“Não conversamos sobre tópicos específicos, o presidente deixou claro o respeito que tem pela instituição. A reciprocidade foi muito boa da parte do Roberto [Campos Neto], foi uma conversa de alto nível”, disse.
O encontro começou com uma hora de atraso, por causa de reuniões que foram prolongadas na agenda de Lula. Na parte da tarde, ele se reuniu com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), para tratar das inundações no Estado.
Na sequência, ainda teve uma cerimônia pública para assinatura dos primeiros contratos de concessão de linhas de transmissão do atual governo.
Os dois e mais Haddad permaneceram reunidos também por cerca de uma hora. Lula vem criticando a alta taxa de juros no Brasil desde os primeiros meses do governo.
Essas críticas, não raro, também eram acompanhadas de ataques ao próprio Campos Neto, a quem Lula pegou o costume de chamar apenas de “cidadão”. Também já falou que ele era “louco” e que não tinha compromisso com o Brasil, insinuando que ele buscava beneficiar terceiros.
“Ele não tem nenhum compromisso comigo. Ele tem compromisso com quem? Com o Brasil? Não tem! […] Ele tem compromisso com o outro governo, que o indicou. Isso é importante ficar claro. Ele tem compromisso com aqueles que gostam de taxa de juros alta. Porque não há outra explicação. Não há outra explicação”, afirmou o presidente, durante viagem ao Reino Unido.
“Outro dia, numa entrevista, ele disse ‘para eu atingir a meta [de crescimento] de 3%, a taxa de juro tem de ser acima de 20%’. Está louco? Esse cidadão não pode estar falando a verdade. Então, se eu como presidente não puder reclamar dos equívocos do Banco Central, quem vai reclamar? O presidente americano?”, afirmou.
Na quarta-feira passada (20), o Copom reduziu a Selic em 0,5 ponto percentual, de 13,25% para 12,75% ao ano. A decisão foi tomada de forma unânime pelos nove membros do colegiado.
Esse foi o segundo corte consecutivo na mesma intensidade promovido pelo comitê, que levou os juros ao menor nível desde maio de 2022.
Nathalia Garcia/Renato Machado/Folhapress/Foto: Raphael Ribeiro/Banco Central
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