O uso indiscriminado de áudios contendo informações erradas, des-contextualizadas ou falsas expandiu-se a partir das eleições de 2018 e veioganhando força nos últimos anos. Podemos perceber a quantidade de áudios que circulam nas redes sociais com teorias conspiratórias, ataques a desafetos políticos ou campanhas de cancelamento. Ninguém está a salvo desses processos. Mas, curiosamente, o meio rádio tem sido um dos mais visados para a distribuição desses conteúdos denominados de “desinformação”. A professora dra. Sônia Caldas Pessoa, que atua nos cursos de comunicação da Universidade Federal de Minas Gerais, onde coordena o Laboratório de Experimentações Sonoras, explica que o rádio é um meio muito atraente pois propicia uma comunicação direta com o público, apoiada no uso da voz, o que dá mais credibilidade e aproxima o ouvinte do conteúdo.
Neste ano, ela apresentou uma pesquisa no Grupo de Rádio e Midia Sonora da Intercom, em parceria com a pesquisadora Ana Luiza Bongiovani, sobre o uso do áudio nessas campanhas de desinformação. O texto, com o título Desinformação em áudio e estudos radiofônicos: interfaces e convergências, analisa uma série de situações importantes para a sociedade. “Na desinformação, o que ocorre é a não checagem, a não realização desse processo”, explica a professora. “E a divulgação pode ser de qualquer situação, fato, evento que tenha sido criado por alguém, por motivação.
isso, a desinformação avança de forma rápida e sem identificação do autor, mas com as características de envolvimento do áudio.
Nesse contexto, a pesquisadora explica que, ao ouvir um áudio de uma emissora de rádio em uma rede social, o usuário acredita que esse conteúdo tenha sido checado, pois reconhece a credibilidade do meio e da emissora. Porém, muitas vezes esse material não foi devidamente avaliado antes de ser veiculado, ou foi retirado do contexto original, levando a um entendimento completamente equivocado e diferente do original.
“As características do rádio, o jeito coloquial de falar, o modo espontâneo, a forma, como se você estivesse falando diretamente para a pessoa que está ouvindo… esse modo de você se aproximar do ouvinte, como se estivesse numa conversa, num diálogo, todas essas características um dia foram estudadas como algo que potencializa o afeto positivo do rádio, que atrai os ouvintes para o rádio. Atualmente, elas são paradoxalmente perigosas. São características e fatores que, se por um lado, aproximam as pessoas que estão ouvindo, por outro potencializam a amplificação da desinformação no rádio”.
Importante destacar que, mesmo que aquele conteúdo tenha sido identificado e desmentido, a área de cobertura da informação corrigida não atinge o mesmo grupo de pessoas. E mesmo que atinja, lembra Sônia Pessoa, boa parte não acredita por achar que “o desmentido” é uma forma de desinformação, dando mais credibilidade à desinformação: “É um grande desafio, pois esse processo de desinformação é um jogo perverso, já que na dúvida as pessoas preferem acreditar nos mais próximos, que enviaram o conteúdo errado no grupo, do que nos meios de comunicação que fazem campanhas de checagem
de notícias. Até porque a pessoa já espalhou aquele dado e não quer assumir publicamente o constrangimento pelo erro”.
Por Álvaro Bufarah
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