Se, como todos os santos da baía estão cansados de prever, o candidato do PT à Prefeitura de Salvador, Robinson Almeida, tiver que abrir mão da candidatura em favor do nome do vice-governador Geraldo Jr., do MDB, o partido que comanda o governo do Estado há 17 anos vai permitir que lhe escorra pelos dedos a chance de marcar posição estratégica na capital baiana não em relação à disputa de 2024, que já se sabe, com antecedência, muito difícil de ganhar, mas, essencialmente, para o futuro próximo, quando talvez a cidade se apresente como principal alternativa de poder para a legenda.
Afinal, não é possível que os cabeças do PT achem que vão permanecer ad aeternum no comando do Estado baiano. Inúmeros fatores contribuem para que, aqui e alhures sob uma democracia, em algum momento a alternância finalmente se consume, o que, no caso da Bahia, pode acontecer a qualquer tempo a partir da próxima eleição estadual. O governador petista Jerônimo Rodrigues sabe que, independentemente dos resultados que entregue, precisará enfrentar, na caminhada para sua reeleição, dificuldades como a fadiga de material ocasionada pelo tempo de seu grupo no poder. Contar com a ajuda de um presidente Lula mais forte será essencial.
Caso passe na prova, superando as adversidades que o tempo deverá jogar em seu caminho, terá que virar um monstro no curso de um eventual segundo mandato para eleger um sucessor. Se não for bem sucedido, o grupo acabará finalmente cedendo o seu lugar na máquina estadual a um nome da oposição, hoje sob controle do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), a qual, em condições normais de temperatura e pressão, pode desejar legitimamente permanecer no poder mais tempo até do que o PT terá ficado. É por este motivo que, fossem mais previdentes, os líderes petistas não tratariam a capital baiana com tanto desdém.
Num eventual período de alijamento do PT do governo, Salvador deverá emergir como o projeto eleitoral mais importante para o partido, para o qual poderá contar, inclusive, a expertise que granjeou no Estado. Para isso, no entanto, a legenda teria que ter começado a pensar no futuro há muito tempo. É evidente que subestimou o tema ao ter escolhido o deputado estadual Robinson Almeida (PT) para candidato. Apostar num parlamentar de perfil radical, sem carisma, que ainda se expressa por meio de notas de repúdio, chama notícias que o desagradam de fake e só conversa com a própria bolha é claro que não poderia gerar esperança, mas esforço.
A forma com que ele entrou no jogo explica o infortúnio. Foi uma manobra do senador Jaques Wagner com o único intuito de impedir que José Trindade (PSB), presidente da Conder, se filiasse ao PT para disputar a Prefeitura. Seu alvo era o ministro Rui Costa (Casa Civil), padrinho de Trindade. Robinson deveria apenas cumprir a missão de tirá-lo do jogo, mas, sem alternativa melhor nem conhecimento da operação, a militância petista o abraçou e a situação saiu do controle. Algum desgaste haverá, mas ele será substituído por Geraldo Jr. Ao custo do sacrifício da bancada petista e de o PT se distanciar ainda mais de Salvador. Rui pode estar se divertindo.
* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna. Raul Monteiro*
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