Editorial: As promessas de fim de ano

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“Para ganhar um Ano Novo que mereça este nome, você, meu caro, tem de merecê-lo, tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil, mas tente, experimente, consciente. É dentro de você que o Ano Novo cochila e espera desde sempre”.

Carlos Drummond de Andrade

“Receita de Ano Novo”.

O ano passa e a gente pensa: “não realizei nada que prometi ano passado”, e isso acontece sempre, não por falta de planejamento, ou por falta de dinheiro, ou até por falta de vontade, não! Acontece porque deixamos para depois, mesmo com toda programação estabelecida, dinheiro em caixa, vontade grande de fazer algo, mas o depois é o problema, o amanhã é sempre sedutor, mas é o algoz dos nossos planos.

Tem gente até que acredita ser “a rainha da procrastinação” ou o rei, o especialista em deixar pra depois, e aí já viu, essa falta de domínio de si mesmo, ou acreditar que o mundo deve se adaptar a você e não você ao mundo, e assim também, o sistema, as pessoas, os horários, enfim, o universo deve sempre esperar e se adequar às suas escolhas, ao seu tempo, aos seus planos, e o “deixar pra depois” é um deles.

Esse “Ano Novo” tão sedutor, tão esperado pelas pessoas, tão festejado como um presente, uma “joia rara”, vai perdendo o valor quando de fato começa e junto com ele os velhos problemas, os velhos valores, os velhos costumes, as velhas decepções, e as novas dívidas, e o que era pra ser novo de verdade, como mérito, como o despertar de nós mesmos, não acontece, porque queremos sempre começar por fora, pensar por fora, mudar por fora, reformar por fora, criar coisas novas por fora, ganhar por fora, e esquecemo-nos de nos alimentar por dentro, sacrificamos nosso bem espiritual em nome de uma aparência, e o ano termina sem ao menos a gente começar o ano.

Então, que tal começarmos o ano novo pelo fim? Já que amamos tanto o amanhã e somos satisfeitos por ele existir, sem preocupações com o presente, porque sempre tem o dia de amanhã pra resolver as coisas, “vamos dar tempo ao tempo”, como se o tempo precisasse, e ainda tem aquela mais famosa: “nada como um dia após o outro”, e assim a gente vai moldando a nossa vida numa eterna expectativa, e quando a realidade bate à nossa porta a gente se assusta! E sabe por que a gente se assusta? Porque

nos preocupamos demais com a aparência do Ano Novo e nos esquecemos de mudá-lo por dentro.

Lembra de Drummond?

“É dentro de você que o Ano Novo acontece!”

BOAS FESTAS!

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