O presidente Lula (PT) intensificou a aposta na relação com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em meio ao acirramento da tensão na Câmara dos Deputados sob a presidência do deputado Arthur Lira (PP-AL).
A viagem do petista a Minas Gerais nesta quinta-feira (8), em que Pacheco ocupará posição de destaque, deve consolidar a aliança dos dois e a estratégia do Palácio do Planalto em usar o Senado para contornar a turbulência na Câmara.
Nesta semana, Lira tornou públicas suas queixas ao Planalto, reverberando também a insatisfação de deputados com o ritmo de liberação de emendas.
Mas o presidente da Câmara já afirmou a aliados que não pautará projetos de interesse do governo caso o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT), seja mantido no cargo.
Pacheco e Lula vêm se aproximando desde o ano passado, mas as ameaças de Lira fizeram o Planalto reforçar o movimento para tentar equilibrar a correlação de forças no Parlamento. Como presidente do Congresso Nacional, cabe ao mineiro, por exemplo, convocar ou não sessão para analisar vetos presidenciais.
Uma das críticas de Lira foi justamente sobre o veto de Lula a R$ 5,6 bilhões em emendas parlamentares no orçamento. Integrantes das duas Casas ameaçam derrubar a decisão de Lula.
Na segunda-feira (5), Lula recebeu Pacheco no Palácio do Planalto logo após o duro discurso de Lira na cerimônia de abertura do ano legislativo. A reunião foi acompanhada pelo alvo das críticas do presidente da Câmara, Padilha. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa (PT) também participou da conversa.
O encontro, fora da agenda oficial, serviu para que Lula e Pacheco discutissem anúncios programados para a viagem presidencial a Minas nesta quinta.
A intenção é que Pacheco seja apresentado como um dos idealizadores do plano de investimentos e financiamento para o estado. O presidente do Senado também deve ser colocado como o principal formulador de medidas para resolver a dívida bilionária do governo mineiro com a União.
Esta será a primeira ida de Lula em seu terceiro mandato ao estado, que foi crucial para garantir a vitória em 2022. Assim, o Executivo prepara um grande evento, com autoridades e lideranças da sociedade civil e do empresariado, chegando a cerca de 600 convidados.
Além de Rui, o evento contará com a presença dos ministros de Minas e Energia, Alexandre Silveira –que também é mineiro–, dos Transportes, Renan Filho (MDB), da Educação, Camilo Santana (PT), da Saúde, Nísia Trindade, e da Gestão e Inovação, Esther Dweck.
A ideia é fazer uma prestação de contas do que já foi feito no estado e anunciar mais investimentos. Lula deve ir de novo a Minas em março, segundo aliados, para lançar obras.
Dentre os anúncios previstos para esta quinta, está a cessão de um terreno próximo ao aeroporto para a Prefeitura de Belo Horizonte. As obras do anel rodoviário da BR-318 também estão na lista de previsões.
Além da reunião de segunda, Pacheco já esteve com o presidente ao menos sete vezes no Planalto, segundo registros da agenda oficial.
Lula e Pacheco se conheceram durante a corrida eleitoral de 2022, mas têm estreitado as relações desde então. A aliança é também pragmática eleitoralmente, já que o PT ainda tem dificuldades em voltar a se firmar em Minas —hoje dividido e com fortes bases bolsonaristas.
Em Belo Horizonte, a expectativa é de que o deputado federal Rogério Correia (PT-MG) se confirme como pré-candidato à prefeitura. Mas estadualmente o partido não tem um nome forte para disputar.
Pacheco é um aliado de centro e, segundo relatos, forte candidato a ter o apoio do PT para disputar o governo do estado em 2026. Interlocutores do senador dizem que o próprio Lula já discutiu o tema com ele.
“O PT acha caminho natural [ter] o Pacheco no governo do estado. Já fizemos alianças antes”, disse Correia à reportagem. “Ele tem boa relação com a gente, desde que foi deputado federal. Antes mesmo, quando era da OAB. Sempre foi companheiro nosso”, completou.
Lula também tem convidado o senador mineiro para agendas fora do país. Em dezembro, ao voltar da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, Pacheco contou a senadores próximos que ficou impressionado com a forma calorosa com que o presidente era cumprimentado por líderes globais como Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, e Emmanuel Macron, presidente da França.
O petista também pediu para que o presidente do Senado cancelasse uma viagem de férias que ele havia combinado com a família para participar da solenidade que marcou o atentado de um ano às sedes dos Três Poderes. Lira faltou ao evento.
Na posse de Ricardo Lewandowski como ministro da Justiça e Segurança Pública, Pacheco acompanhou o presidente na descida de seu gabinete ao salão do Palácio do Planalto.
Segundo aliados do petista, Lula espera contar com o apoio de Pacheco para postergar até a segunda quinzena de março a convocação da sessão do Congresso em que deverão ser votados os vetos presidenciais ao Orçamento de 2024.
Até lá, a equipe econômica deve ganhar tempo para negociar as medidas de interesse do governo. A avaliação do Palácio do Planalto é que parlamentares, liderados por Lira, ainda se lamentam pela perda do controle maior do orçamento em relação ao que tinham no governo de Jair Bolsonaro (PL).
Um palaciano disse se tratar de “desmame” de emendas parlamentares, que bateram recordes nos últimos anos.
Durante a solenidade de segunda-feira (5), Lira fez questão de mostrar seu descontentamento com a articulação política do Governo. Já na chegada, Lira acompanhou Rui no acesso ao plenário da Câmara, deixando Padilha para trás.
Lira conversou animadamente com o chefe da Casa Civil ao longo da cerimônia, chegando a cochichar no ouvido de Rui, enquanto Padilha estava sentado na ponta da mesa.
Catia Seabra, Marianna Holanda e Thaísa Oliveira/Folhapress/Foto: Roque de Sá/Arquivo/Agência Senado
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