Só três princípios podem ter motivado o presidente da Assembleia Legislativa da Bahia, deputado Adolfo Menezes (PSD), a não ter promovido na terça-feira mesmo, em seguida à votação que aprovou a PEC que garante a reeleição à presidência da Casa, o pleito para a nova mesa diretora do Poder, o que certamente lhe garantiria, de forma antecipada, um terceiro mandato no comando do Legislativo estadual: primeiro, o respeito à instituição, que poderia sair arranhada, caso a votação fosse antecedida em quase um ano. Depois, a confiança no governador Jerônimo Rodrigues (PT) e no ex, Rui Costa, de que não lhe criarão empecilho, caso deseje concorrer.
Afinal, nada impediria que, se tivesse trabalhado com antecedência e articulado uma chapa de forma a bem contemplar os partidos representados na Assembleia, Adolfo conseguisse conquistar com folga o terceiro mandato ou, como se diz na Casa, a segunda reeleição, arrastando com ele aqueles que avaliasse capazes de dar sustentação ao plano. Não há como desconsiderar, por exemplo, que os 56 votos que garantiram a aprovação da PEC, em dois turnos, foram, em boa medida, uma sinalização positiva à possibilidade de Adolfo querer se recandidatar, apesar da discussão jurídica que a matéria provoca e do questionamento judicial que ele poderia sofrer, se eleito.
Por isso, há quem tenha ponderado, naturalmente, que o clima de insegurança jurídica também deve ter concorrido para desestimular o presidente a antecipar o processo eleitoral, avaliando o risco de provocar um desgaste desnecessário à sua figura de político republicano, que procura se pautar dentro da legalidade e cumprir à risca os ritos que o cargo exige, comportamento que, lamentavelmente, não encontra lá muitos exemplos no seu universo de atuação. É verdade que Adolfo não contaria com os votos da bancada do PT, a qual deixou bem claro, na mesma sessão de terça, que apoiava a PEC da reeleição, mas não uma eventual recandidatura do presidente.
Também poderia perder mais alguns votos em seu próprio partido, devido à pressão contrária do senador Otto Alencar (PSD), o Cosme ou o Damião da dupla que forma com o colega de Senado Jaques Wagner (PT), principal artífice da resistência ao projeto de Adolfo se reeleger na Assembleia. Claro que o senador petista, com a habilidade que poucos têm na política baiana, vem sabendo enquadrar seu discurso numa moldura institucional ao se opor à reeleição, embora todos saibam que seu plano, na verdade, é assegurar ao líder do governo, Rosemberg Pinto, um correligionário petista, as condições para que o PT assuma, pela primeira vez, o comando do Legislativo.
Com todos os óbices, portanto, ainda assim teria sido fácil, se tentada na terça, a possibilidade de Adolfo ter conseguido se reeleger. Daí que mais uma hipótese para sua cautela tem se imposto. Na prática, o presidente soube evitar uma crise, que poderia ser deflagrada devido à oposição declarada da bancada do PT à sua recandidatura. Como deixou claro, o partido do governo não é contra o instituto, mas contrário à reeleição de Adolfo, porque, para ampliar seu projeto de poder, quer controlar também o Legislativo, agora com os instrumentos para que o novo presidente, sendo do PT, possa se reeleger indefinidamente. O tempo dirá se Wagner não marcou mais um ponto neste sentido.
*Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna. Raul Monteiro*
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