Os pré-candidatos à sucessão de Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara dos Deputados acumulam obstáculos para viabilizar seus nomes na disputa. A eleição ocorre em fevereiro de 2025, e a corrida pela sucessão do alagoano está indefinida.
Hoje, há ao menos quatro deputados que se apresentam: Elmar Nascimento (União Brasil-BA), Marcos Pereira (Republicanos-SP), Antonio Brito (PSD-BA) e Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL).
Lira, que não pode concorrer à reeleição, tenta transferir seu capital político a um parlamentar de sua escolha. Ele afirmou a deputados que pretende definir o nome de seu candidato até agosto, antes das eleições municipais.
Nos bastidores, avalia que nenhum dos nomes colocados tem hoje os votos necessários. Por isso, tem buscado o apoio do governo Lula (PT) ao seu sucessor. Como mostrou a Folha, o alagoano ofereceu ao petista a possibilidade de o presidente da República vetar um dos candidatos para consolidar essa aliança.
Um dos motivos para a preocupação são as resistências aos atuais pré-candidatos.
Elmar Nascimento é considerado o mais próximo de Lira, o que gera apreensão em parlamentares. Os deputados do chamado baixo clero também criticam a postura do líder da União Brasil por repetir o estilo ríspido do presidente da Câmara no trato do dia a dia.
Ele também sofre resistência no Palácio do Planalto. Ainda na transição de governo, foi vetado por membros do PT da Bahia para ocupar um ministério na Esplanada de Lula.
Também pesa contra Elmar o fato de o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) ser o favorito para a presidência do Senado. Políticos se opõem a um mesmo partido comandar as duas Casas do Legislativo.
Além disso, Elmar votou contra a manutenção da prisão do deputado Chiquinho Brazão (sem partido-RJ), preso sob suspeita de ser um dos mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ). Ele fez corpo a corpo com parlamentares defendendo sua posição, contrariando parlamentares governistas.
Aliados de Elmar dizem, no entanto, que ele tem condições de agregar apoio e se tornar o candidato de Lira à sucessão.
Já Marcos Pereira (SP), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e presidente do Republicanos, enfrenta críticas da própria bancada evangélica da Casa e de parlamentares do PL mais alinhados a Jair Bolsonaro.
Recentemente, foi atacado por deputados bolsonaristas por defender o andamento de matérias relacionadas ao combate às fake news e à regulação da inteligência artificial (IA).
As declarações deixaram “um gosto ruim”, nas palavras de um aliado de Bolsonaro, mas não necessariamente farão com que o ex-presidente vete o nome de Pereira na disputa.
Pereira também enfrenta resistência entre parlamentares de partidos de esquerda por ser ligado à Universal –ele foi vice-presidente da TV Record, de propriedade do bispo Edir Macedo, líder da igreja. Por outro lado, deputados dizem que ele pode aproximar Lula do segmento evangélico.
Pereira viajou com Lula, a convite do presidente, para um evento em Santos (SP) no começo do ano. Segundo uma pessoa próxima ao parlamentar, um novo encontro poderá ocorrer em breve.
Líder do PSD na Câmara, Antonio Brito (BA) é considerado hoje o nome mais próximo do Planalto, o que causa apreensão entre membros da oposição. Conta a seu favor um bom trânsito com parlamentares e líderes da direita, assim como entre diferentes bancadas da Casa.
O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, publicou no fim de abril imagem de um encontro com Brito em suas redes sociais. À Folha, naquele momento, ele disse que o deputado é um “bom candidato” e que membros do PL respeitam o parlamentar.
Deputados afirmam que pesa contra Brito o fato de ele ser próximo ao presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab. Eles dizem que Kassab, hoje secretário de Governo e Relações Institucionais de São Paulo, ganharia poder excessivo na Câmara com a eventual eleição de Brito.
Isnaldo Bulhões Jr., por sua vez, integra em Alagoas o grupo do senador Renan Calheiros (MDB-AL), adversário de Lira, o que representa um importante obstáculo para suas pretensões.
Cardeais do centrão dizem que Isnaldo poderá crescer na disputa se for atribuída a ele a imagem de um candidato “anti-Lira”.
Além dos quatro nomes, também são lembrados como potenciais candidatos os líderes do PP, Doutor Luizinho (RJ), e do Republicanos, Hugo Motta (PB).
Luizinho tem o respaldo do presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), mas deputados do centrão dizem que ele não tem apoio necessário em outros partidos para se tornar um candidato viável.
Já Hugo Motta, apesar de ser uma opção para o próprio Lira, é do mesmo partido de Marcos Pereira e só entrará na disputa se o presidente da legenda desistir –possibilidade considerada difícil hoje.
Pereira ofereceu entregar a presidência da legenda a Motta caso seja eleito presidente da Câmara, o que daria projeção ao aliado nas eleições de 2026.
PRÉ-CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA DA CÂMARA
Elmar Nascimento (União Brasil-BA)
É considerado o mais próximo de Lira, mas há dúvidas sobre a viabilidade da candidatura
Marcos Pereira (Republicanos-SP)
Possui boas relações com membros do governo e com a oposição, mas enfrentou críticas de bolsonaristas
Antonio Brito (PSD-BA)
Líder do PSD, é apontado como o mais alinhado ao governo Lula até agora, mas há receio de poder excessivo de Kassab
Isnaldo Bulhões Jr. (MDB-AL)
Líder do MDB, tem agido nos bastidores da Casa; congressistas avaliam que ele pode ser o candidato “anti-Lira”
Victoria Azevedo e Julia Chaib / Folhapress/Foto: Divulgação / Câmara dos Deputados