A ideia de que os partidos que saírem mais fortes destas eleições de outubro terão prioridade na composição das chapas que se articularem para disputar o governo do Estado em 2026 tem levado seus principais líderes a investir pesado no apoio a candidatos a prefeito no interior, aqueles que, como se diz no popular entre os políticos do sertão, são os responsáveis por “tanger os votos para as urnas”. Agem assim lideranças tanto da situação, em que é dado como fato concreto o projeto de reeleição do governador Jerônimo Rodrigues (PT), quanto da oposição, liderada na Bahia pelo ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil).
Mas, por razões óbvias, atribuídas essencialmente à ocupação do poder, a disputa é mais fervorosa entre os representantes dos partidos da base do governo. Neste campo, fazem esforços cabeça a cabeça para ver quem emerge como a segunda força política no Estado, depois do PT, o PSD dos senadores Otto Alencar e Angelo Coronel, e o Avante, agremiação que passou a se articular na Bahia em torno do governo sob a liderança oficial do ex-deputado Ronaldo Carletto, quadro egresso do PP, mas que a quase totalidade da classe política diz estar intimamente associada a planos eleitorais do hoje ministro Rui Costa (Casa Civil).
Estimula a convicção de que Rui seria, na verdade, na Bahia, o verdadeiro controlador do partido que tem investido de maneira meticulosa na formação de quadros e na captura de prefeitos e Prefeituras no interior tanto a relação de proximidade que possui com Carletto como a suposição de que o ministro alimentaria o plano alternativo de usar a legenda para concorrer ao Senado na chapa de Jerônimo, já que o governador e o senador Jaques Wagner, ambos do PT, deverão ser candidatos à reeleição, tornando muito difícil ao partido deles a tarefa de ocupar três das quatro vagas que estarão em disputa na próxima sucessão estadual.
É exatamente o alegado plano do Avante para Rui ou de Rui para o Avante que tem mais incentivado o PSD de Otto a não perder espaço para o colega de base. Menos pelo senador que terá à sua disposição em 2026 mais quatro anos de mandato pela frente do que pelo parceiro de longa data, às vezes liderado outras tantas líder dele, Angelo Coronel, cujos planos de concorrer à reeleição ao lado de Wagner já é sabido de todos. Com os filhos em campo, o deputado federal Diego e o estadual Angelo Filho, e de olho nas próximas eleições estaduais, o senador tem liderado à distância uma força-tarefa pelo fortalecimento do PSD.
Tudo sob a anuência, e mesmo a ajuda, de Otto, que não tem porque se queixar de qualquer movimento que vise ao robustecimento de seu partido. Mas Coronel não joga só na direção do interior. O recente movimento que fez de articulação de um grupo de deputados da base na Assembleia insatisfeitos com o governo, dado o que se diz sobre as dificuldades de relacionamento que o Executivo enfrenta, pode se expandir dando a ele um trunfo que não se imaginava que construísse para discutir sua manutenção na chapa de 2026. Empoderado pelo partido e um grupo forte no Legislativo, terá talvez o mesmo poder de fogo de quando foi escolhido ao Senado no grupo, em 2018.
Artigo do editor Raul Monteiro publicado na Tribuna da Bahia de hoje. Raul Monteiro