O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) disse neste sábado (6), na abertura da Cpac, conferência conservadora que acontece em Balneário Camboriú (SC), estar à disposição para dar esclarecimentos sobre acusações que pesam contra ele.
“A imprensa que me critica, a grande imprensa, mais uma vez estou à disposição de vocês, para duas horas ao vivo ser sabatinado sobre qualquer coisa”, declarou, sem citar diretamente as investigações das quais é alvo.
Na quinta-feira (4), Bolsonaro foi indiciado pela Polícia Federal na investigação sobre joias recebidas de governos estrangeiros. “Se acham que vão me desgastar, as mídias sociais nos deram liberdade, por isso querem me censurar”, afirmou.
Sua fala foi aplaudida com gritos de “volta, Bolsonaro” pelo plenário lotado de um centro de convenções na cidade catarinense. O ex-presidente disse que não tem ambição pelo poder. “Tenho é uma obsessão pelo nosso Brasil”.
Ele também chamou o PT de “Partido do Trambique” e disse que conheceu do que a esquerda é capaz em 1970, dez anos antes da criação do partido.
A quinta edição da Cpac Brasil deve consolidar a aliança do bolsonarismo com movimentos mundiais da direita radical.
O evento no sábado (6) e domingo (7), inspirado em uma conferência que ocorre anualmente nos EUA desde os anos 1970, dará palco a Bolsonaro e ao atual chefe de Estado argentino, Javier Milei.
A expectativa é de uma imagem dos dois juntos e de provocações ao presidente Lula (PT) nos discursos.
O argentino irritou o governo brasileiro ao vir ao país em caráter não oficial, ignorando os protocolos diplomáticos. No domingo, terá uma agenda carregada, com encontros com empresários e o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), antes de falar no evento.
Outras figuras de proa da direita latino-americana e europeia estarão presentes. Do Chile virá José Antônio Kast, que perdeu no segundo turno da eleição presidencial para o esquerdista Gabriel Boric em 2021 e desponta como favorito no pleito do ano que vem.
Ministro da Justiça de El Salvador, Gustavo Funes deve ser recebido efusivamente pela plateia, já que a política de linha-dura contra o crime no país centro-americano, com encarceramento em massa de suspeitos, tornou-se uma referência para a direita brasileira.
Também estão previstas as presenças de representantes de partidos europeus como o português Chega! e o Grupo de Conservadores e Reformistas do Parlamento do bloco. Ambiciosa, a organização do evento chegou a convidar o ex-presidente americano Donald Trump, sem sucesso.
Declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) até 2030 por ataques e mentiras sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente já havia sido indiciado em março pela PF em outro inquérito, envolvendo a falsificação de certificados de vacinas contra a Covid-19.
Além do caso da venda das joias e da carteira de vacinação, Bolsonaro é alvo de outras linhas de investigações, que apuram os crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado democrático de Direito, incluindo os ataques de 8 de janeiro de 2023.
Parte dessas apurações está no âmbito do inquérito das milícias digitais relatado por Moraes e instaurado em 2021, que podem em tese resultar na condenação de Bolsonaro em diferentes frentes.
Caso seja processado e condenado pelos crimes de tentativa de golpe de Estado, tentativa de abolição do Estado democrático de Direito e associação criminosa, Bolsonaro poderá pegar uma pena de até 23 anos de prisão e ficar inelegível por mais de 30 anos.
Fábio Zanini/Folhapress/Foto: Alan Santos/PR/Arquivo