Fazendo jus à fama de ser o mês das grandes crises políticas nacionais, agosto de 2021 deixou o Brasil em suspense diante da escalada de tensão entre Jair Bolsonaro e as instituições. No dia da votação na Câmara dos Deputados de uma proposta de emenda constitucional (PEC) que instituía o voto impresso, medida defendida pelo presidente da República, tanques e outros equipamentos militares desfilaram pela Praça dos Três Poderes, em Brasília, o que foi interpretado por oposicionistas como uma tentativa de intimidação do Congresso. Já Bolsonaro — em mais um capítulo de sua queda de braço com o Judiciário — apresentou um pedido de impeachment do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que mandou a Polícia Federal cumprir mandados de busca e apreensão contra radicais acusados de ameaçar a democracia. Preocupados com o acirramento de ânimos, ex-presidentes da República, parlamentares e magistrados procuraram generais para saber se havia risco de golpe militar e se a democracia resistiria até o feriado de 7 de Setembro, para o qual estava previsto um grande ato de apoio a Bolsonaro.
Naquela época, poucas pessoas tinham credenciais para esclarecer essa questão quanto o ministro da Defesa e chefe das Forças Armadas, general Braga Netto. E as sondagens com o general não foram boas. Reservado e subserviente ao presidente, Braga Netto compartilha muitas das ideias lunáticas do chefe (isso quando ele mesmo não é o incentivador das sandices). Há uma versão em Brasília de que, naquele momento de tensão, ele teria, inclusive, recorrido a um intermediário para avisar o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que não haveria eleição em 2022 se não fosse aprovado o voto impresso, como queria Bolsonaro. O general negou essa movimentação, mas ele claramente pregou durante a crise contra um suposto ativismo judicial do STF, reclamando das “arbitrariedades” praticadas por Alexandre de Moraes e repetindo o mantra-ameaça segundo o qual os outros poderes não deveriam “esticar a corda”, sob pena de sofrer as consequências. Apesar de toda essa pressão, a Câmara rejeitou o voto impresso, o STF não se curvou e a democracia se manteve firme. Bolsonaro, se sonhava com um golpe, algo que ele sempre negou, não conseguiu realizá-lo. Já Braga Netto ganhou pontos com o chefe e agora é cotado para desempenhar outra função estratégica: a de candidato a vice na chapa à reeleição encabeçada pelo ex-capitão. Hoje, o general é o “plano A” de Bolsonaro para o posto. A reportagem é da revista “Veja”. Leia mais.