O espetáculo que mudou uma comunidade: Via Sacra de Itamotinga celebra 40 anos de fé e transformação

Cidades Juazeiro

Ainda é cedo quando as primeiras luzes se acendem nos bastidores da Via Sacra de Itamotinga (BA). Técnicos ajustam refletores, voluntários finalizam os figurinos, artistas ensaiam as últimas cenas. Palco, cenário, iluminação, som — tudo precisa estar pronto a tempo para o espetáculo que, há quatro décadas, transforma o distrito do município de Juazeiro em um grande teatro a céu aberto. É a apresentação do show “Jesus de Nazaré”, representação cênica dos últimos dias de vida do filho de Maria e José, período de extrema importância para a fé cristã.

O que nasceu como uma encenação simples dentro da igreja, com a participação de jovens da catequese e da crisma, tomou as ruas do distrito e se tornou um evento de referência para o teatro popular religioso no interior baiano. À princípio, sob a direção de Manoel Cândido Neto, considerado o seu principal líder. Hoje, a Via Sacra não é apenas um espetáculo — é uma iniciativa que mobiliza o território e por onde muitas pessoas descobrem-se artistas, aprendem a trabalhar em grupo e criam laços.

“Sempre digo que a Via Sacra de Itamotinga é um projeto de transformação social. Nela se envolvem crianças, jovens, adultos… diferentes grupos que vivenciam essa transformação. É uma história gigantesca e centenas de pessoas já passaram por ela”, conta Geovane Oliveira, diretor e produtor do espetáculo.

O espetáculo, que em 2025 contou com apoio do edital de Premiação de Espetáculos Sacros da Secretaria de Cultura, Turismo e Esportes (Seculte) de Juazeiro, já passou, ao longo dos anos, por diversas fases. Do improviso com figurinos feitos de lençois e capacetes de papelão, além de refletores confeccionados com latas de leite, o espetáculo foi se aperfeiçoando tecnicamente e institucionalmente.

Com a fundação do Grupo de Teatro de Itamotinga, e posteriormente da Associação Comunitária Cultural Artística de Itamotinga (Accardi), os organizadores conquistaram espaço em editais culturais, entre outros apoios, necessários para garantir a melhor experiência para os espectadores.

“Nós gastamos, mais ou menos, R$30 mil por cada edição. São mais de cem pessoas envolvidas diretamente: atores, figurinistas, técnicos, equipe de apoio, produção. Então, contamos com o auxílio de editais, empresários e pessoas que acreditam no projeto”, comenta Geovane.

Para Hertz Félix, coordenador de cultura da Seculte, que promove editais de fomento às manifestações culturais, não só apoiar, mas também celebrar os 40 anos da via sacra de Itamotinga é reconhecer um marco na história e identidade desta comunidade. “Nessas quatro décadas, a via sacra do distrito reafirma seu papel como um patrimônio imaterial valioso, que merece ser celebrado, preservado e continuamente valorizado para as futuras gerações”, reflete o coordenador.

Um espetáculo que cresce

No começo, como é comum em encenações da Via Sacra, o grupo utilizava áudios prontos de outras montagens consagradas para realizar a dublagem das cenas. À medida que se profissionalizou, passou a produzir suas próprias trilhas sonoras, gravadas com as vozes dos próprios atores. O grupo também investiu em formação, com oficinas de teatro, figurino e adereços.

O esforço deu retorno. No início, a Via Sacra era encenada apenas na Sexta-feira Santa. Mas o público cresceu e a Accardi passou a estender a programação. Hoje, as apresentações acontecem na quinta e sexta-feira da Semana Santa — neste ano, nos dias 17 e 18 de abril, sempre às 20h.

A encenação reúne moradores de Itamotinga, artistas de Juazeiro e espectadores vindos de diversas partes da Bahia. Mas o que torna o espetáculo realmente singular é seu impacto na vida de quem participa. “Economia, turismo e transformação social. Para a região de Itamotinga, são os três pilares movidos pelo espetáculo e que o tornam tão importante. O maior espetáculo sacro do Vale do São Francisco”, resume Geovane.

Assim, a Via Sacra de Itamotinga não é só uma memória viva de Cristo: é também a prova de que a cultura comunitária tem força para resistir, se reinventar e mudar vidas. E ao completar 40 anos, o espetáculo celebra não só sua trajetória, mas também o futuro que segue construindo — com fé e arte.

O secretário da Seculte, Targino Gondim, destaca que a Via Sacra é uma representação de um momento muito significativo para os cristãos, e Juazeiro e o interior sempre cultivaram a tradição de manifestar a fé por meio da arte. “Em Itamotinga, por exemplo, já são 40 anos de existência do espetáculo, um evento muito respeitado e admirado, principalmente pelo seu nível de profissionalismo. A gente reconhece isso, valoriza e caminha junto nessa comemoração, porque ela faz parte da nossa história e da nossa vida”, destaca Gondim.

Ascom PMJ/Seculte

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