
O partido que pode surgir da fusão entre o PSDB e o Podemos, caso as negociações avancem e sejam concretizadas, deve tanto apoiar o governador Jerônimo Rodrigues (PT) como o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União). Segundo apurou o Política Livre com lideranças dos dois partidos, o comando estadual ficaria com o primeiro, enquanto na capital o controle seria exercido pelos tucanos. Esse arranjo permitiria, inclusive, o ingresso do deputado federal Bacelar, embora hoje bem acomodado no PV, na nova sigla.
A ideia de o novo partido ficar na base de Jerônimo, no entanto, não agrada o deputado federal Adolfo Viana, principal liderança do PSDB da Bahia. Esse é um dos obstáculos para a conclusão das conversas, que começam a se intensificar no que diz respeito a critérios para o comando nos estados após a Executiva nacional tucana aprovar a realização de uma convenção, em junho, com o objetivo de deliberar sobre o “casamento”.
Vale lembrar que, em junho de 2023, o Podemos incorporou o PSC. Na época, o acordo firmado era que a sigla ficaria na base do PT no Estado, o que resultou na saída dos vereadores aliados de Bruno Reis que eram filiados.
Atualmente, o presidente da legenda na Bahia é o ex-deputado estadual e ex-vereador da capital Heber Santana, remanescente do PSC e que rompeu com ACM Neto no segundo turno das eleições de 2022. Ele também é titular da Superintendência de Proteção e Defesa Civil do governo, além de ser uma das principais “pontes” entre Jerônimo e o público evangélico.
No plano nacional, o pastor Everaldo Dias Pereira, que já foi a principal liderança do extinto PSC e hoje exerce grande influência no Podemos, não abre mão de o novo partido ficar na base de Jerônimo. O posicionamento é o mesmo defendido pela presidente do Podemos no país, a deputada federal Renata Abreu (SP).
“O PSDB hoje está forte em Salvador, com o presidente da Câmara, Carlos Muniz, e cinco vereadores. O entendimento é que o novo partido mantenha-se na base de Bruno, sob o controle de Muniz e de Adolfo, e que na Bahia sigamos com Jerônimo. Creio que não abriremos mão disso, mesmo que possamos ceder alguma coisa em outro Estado do país”, declarou uma fonte do Podemos ao site, reservadamente.
Critério de representatividade
Na Câmara Federal, os dois partidos têm o mesmo número de deputados federais pela Bahia. O do Podemos é Raimundo da Pesca. Ou seja, não há superioridade de nenhum lado se o critério para definição do comando da nova legenda na Bahia for a representação em Brasília.
Na Assembleia Legislativa, o PSDB tem três deputados estaduais (Tiago Correia, Paulo Câmara e Jordavio Ramos) contra apenas um do Podemos (Laerte do Vando). Tiago é, inclusive, o atual líder da oposição, além de muito próximo de ACM Neto, sendo o tucano que teria mais dificuldades em permanecer em um partido alinhado ao governo do Estado.
O novo partido, caso se concretize e fique na base do Palácio de Ondina, é um dos cotados para receber deputados do PP insatisfeitos com a federação entre a legenda e o União Brasil, anunciada oficialmente nesta terça-feira (29), pois desejam permanecer na base de Jerônimo.
Por outro lado, na Câmara de Salvador os dois representantes do Podemos (Randerson Leal e João Cláudio Bacelar) são independentes e da base de Jerônimo. João Cláudio é o presidente municipal e filho do deputado federal Bacelar, que deve se filiar ao partido caso o alinhamento no plano estadual aconteça com o governador ou não ocorra a fusão.
Embora não haja sinais de insatisfação com o PV, e vice-versa, Bacelar ajudou na montagem do Podemos para a disputa eleitoral de Salvador em 2024, o que foi fundamental para a sigla eleger dois vereadores. Aliás, o partido é originário do PTN, antiga casa partidária do deputado federal.
Ao contrário da federação, quando a união entre partidos tem prazo definido de quatro anos, podendo ser prorrogado, na fusão surge uma nova sigla, sem possibilidade de reversão.
Política Livre/Foto: Montagem/Fábio China