Catador de latinhas vira dono de empresa que recicla caminhões; faturamento é de R$ 38 milhões

Uncategorized

Executivo começou a trabalhar aos oito anos e hoje é dono da maior empresa de desmanche e reciclagem de veículos da América Latina; com 200 funcionários, o grupo se prepara para operar com elétricos e híbridos

Criada em 1999 por um ex-catador de latinhas, a JR Diesel, maior empresa de desmanche e reciclagem de caminhões e ônibus da América Latina, começa a se preparar para o futuro não tão distante de reciclagem de veículos elétricos e híbridos. Investimento em novos equipamentos, processos e formação da mão de obra estão nos planos da empresa.

Com faturamento anual na casa de R$ 35 milhões a R$ 50 milhões, hoje a empresa é especializada no desmanche de modelos com até cinco anos de uso, normalmente adquiridos das seguradoras após perda total, e têm as peças em condições de uso remanufaturadas e vendidas no mercado de segunda mão.

Notícias relacionadas

Veículos em final de vida, na faixa dos 15 anos, têm as peças separadas e enviadas para reciclagem, por exemplo para usinas de fundição de aço.

O desafio da mudança não assusta o fundador da JR Diesel, Geraldo Rufino, que começou a trabalhar aos 8 anos como ensacador de carvão, foi catador de latas, vendedor de limão na feira e chegou ao cargo de diretor de uma empresa da área de diversão onde começou como office-boy.

O passo seguinte, mantido até hoje, foi o de comandar a própria empresa. A JR Diesel está instalada em área de 12 mil metros quadrados em Osasco, na Grande São Paulo, e emprega 700 funcionários. No escritório, toda a operação é digitalizada por técnicos que operam com 70 computadores.

Rufino começou a estudar aos 11 anos e fez curso universitário de computação, mas conta que seu principal aprendizado veio da mãe, Geralda, que faleceu quando ele tinha sete anos. “Primeiro ela me ensinou que ser negro e pobre não era obstáculo para nada e que ser alguém na vida dependia do meu trabalho e da forma de me relacionar com as pessoas, respeitando e fazendo o bem.”

Carvão, latinhas e limão

Rufino tinha quatro anos quando uma geada forte destruiu a roça de café e mandioca do pai, Aristides, na pequena Campos Altos, em Minas Gerais, e a família perdeu sua principal renda – a farinha que produzia e vendia. Foi a gota d’água para o pai decidir migrar para São Paulo com a esposa e sete filhos com idades de quatro a 18 anos.

Na capital, a família se uniu ao oitavo filho que já vivia em São Paulo com os tios. Moraram por um tempo no porão da casa, que era muito úmido e pode ter influenciado o quadro de pneumonia que matou Geralda três anos depois, quando moravam na favela do Sapé, na zona Oeste da cidade.

Pai e filhos aceitavam qualquer trabalho que aparecia. Aos 8 anos, Rufino foi trabalhar como ensacador de carvão, “para ajudar a por café e pão na mesa”, como ele conta hoje. Um ano depois, encontrou uma atividade que rendia mais: junto com o irmão, foi catar latinhas de alumínio no aterro próximo à favela para revender.

Em três anos e conseguiram fazer uma “poupança” com parte do dinheiro que ganhavam. Mas aí ocorreu o que Rufino considera a primeira de seis falências que enfrentou. O dinheiro era guardado em uma lata com tampa e enterrado em uma área vazia no bairro.

“Um dia chegou um trator, revirou todo o terreno e quando chegamos a lata com o dinheiro tinha se perdido”, diz Rufino. “Éramos ignorantes e achávamos que o dinheiro estaria seguro”, conclui ele.

Depois da “falência”, foi vender limão na feira e chegou a ter uma barraca para o comércio, quando “quebrou” pela segunda vez. Conseguiu então emprego de office-boy, e o patrão exigiu que ele estudasse. Assim, aos 11 anos, passou a frequentar a escola pela primeiro.

De office-boy a diretor

Geraldo Rufino

Ao longo de 18 anos trabalhou na empresa do grupo Playcenter, onde passou por várias funções até chegar ao cargo de diretor. Nesse período, cursou faculdade de computação e sempre ajudou os irmãos. Para que trabalhassem com entregas, comprou uma Kombi, depois um caminhão e com o passar do tempo eles tinham uma frota de seis veículos.

“Em um grande carregamento que estavam fazendo, os seis caminhões se envolveram em um acidente em uma ladeira e foi perda total; nenhum tinha seguro”, explica o executivo. Para reduzir o prejuízo, desmancharam os veículos e venderam as peças que estavam boas.

A atividade teve resultados tão bons que ele abriu a empresa JR Diesel – J do irmão José e R do sobrenome da família. Eles passaram a desmanchar veículos fora de uso, a revender as peças boas e a enviar as demais para reciclagem.

O negócio estava a todo vapor e os irmãos, empolgados, passaram a diversificar as atividades e aí ocorreu outra falência. Rufino então passou a se dividir entre o trabalho no Playcenter e a JR Diesel e conseguiu colocar a empresa em ordem novamente.

Aos 30 anos, deixou o emprego e assumiu o negócio no lugar dos irmãos. Um de seus grandes clientes o convidou para ser sócio de uma rede de revenda de veículos, o que exigiu empréstimos bancários.

Tempos depois, veio o maior tombo: o sócio americano foi embora e Rufino ficou com uma dívida de US$ 16 milhões. A JR Diesel entrou em recuperação judicial e só recentemente terminou de pagar as dívidas.

“Agora a empresa cresce em média 30% anualmente, e este ano deve faturar cerca de R$ 38 milhões, mas em dois anos devemos voltar ou até superar nosso melhor resultado, de R$ 50 milhões”, afirma Rufino. Hoje, aos 63 anos, ele dedica boa parte de seu tempo a palestras que faz em empresas, escolas e instituições e já escreveu dois livros: “O catador de sonhos” e “O poder da positividade“.

Palestra em Harvard

Os dois filhos são empreendedores. Arthur é dono da startup Octa, que atua no segmento de reciclagem automotiva, e Guilherme tem uma empresa de entretenimento. Todos os irmãos, sobrinhos e sobrinhos netos também têm negócios próprios. “Tenho uma família de 150 pessoas que tem 100 CNPJs”, diz.

Recentemente, ele foi convidado a participar como palestrante de um seminário em Harvard, uma das mais importantes universidades do mundo. O tema do evento era a importância do relacionamento para os negócios. “Eu ria ao ouvir os especialistas falarem sobre isso, pois aprendi tudo aquilo quando era garoto, com minha mãe.”

Fonte: Terra/Fotos: Divulgação

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *