A vitória de Neto em Salvador e contra a serpente bolsonarista.

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A soberba é péssima conselheira, já dizia o velho sábio inglês. Quando, ao avaliar o resultado da primeira etapa eleitoral na Bahia, previu, com sarcasmo, que ACM Neto (União Brasil) se arrependeria de ter arrastado a eleição ao segundo turno, o governador Rui Costa (PT) fez um péssimo vaticínio político. Aliás, oito anos depois de ter virado governador, surpreende que ele ainda resista em deixar que, em seu grupo, a matéria seja tratada com exclusividade pelo senador Jaques Wagner (PT), aquele que o colocou no Palácio de Ondina e a quem, pelo visto, nunca conseguirá superar em termos de tirocínio e estratégia.

Os números envolvendo a disputa no Estado mostram que, se perdeu a eleição, Neto não pode se queixar exatamente do resultado do segundo turno, onde teve 47,21% dos votos, contra os 40,80% registrados no primeiro, contrariando as apostas de que só faria desidratar a partir do dia 2 de outubro. Na capital que governou por oito anos e de onde, ao lado do amigo que fez sucessor, Bruno Reis (União Brasil), avançou para a corrida sucessória contra o candidato do PT, Jerônimo Rodrigues, seu desempenho foi significativamente melhor, comparando-se os números dos dois momentos eleitorais.

Neto obteve entre os eleitores de Salvador 1.013.094 votos (ou 64,51%) contra 557.418 (35,49%) de Jerônimo no último domingo, ante 783.749 votos (52,79%) e 547.531 (36,88%), respectivamente, registrados no dia 2. A subida mostrou que, ao contrário do que previu certa arrogância adversária, o ex-candidato do União Brasil usou o tempo entre um turno e outro para azeitar a própria campanha e melhorar o desempenho, buscando fortalecer deliberadamente um espaço que precisará manter sob o controle de seu grupo a partir de 2024 como parte do plano de permanecer, o tempo necessário, como líder inconteste da oposição no Estado.

O tamanho com que Neto sai das urnas no município é importante para o seu time porque já se antecipa abertamente o projeto do petismo de, depois de assegurar a continuidade no governo baiano, partir com tudo para a conquista do Palácio Thomé de Souza, apresentando, pelos comentários que circulam nos bastidores da administração estadual, o nome do atual governador como opção preferencial para a disputa. Não há como negar que, com a margem de mais de 455 mil votos de frente com que largou em Salvador, Neto voltou a cobrir com uma espécie de manto protetor o prefeito para a batalha que já se arma contra Bruno na próxima sucessão.

No entanto, tão ou mais importante do que a força que demonstrou, foi a decisão inabalável do ex-prefeito de se manter completamente indiferente a Jair Bolsonaro (PL), apesar de manifestações de apoio do presidente a ele. Resistiu bravamente à quase totalidade do seu entorno, especialmente à pressão dos deputados federais, que apostavam oportunisticamente numa aliança entre os dois visando, em contrapartida, a conquista de um ministério e de órgãos federais. A postura, neste momento histórico, permitiu a Neto firmar sua biografia no campo das lideranças verdadeiramente comprometidas com a democracia no país.

Por Raul Monteiro

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