Governo Lula recebe PIB em desaceleração, com desafio de retomar crescimento

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Foto: Fábio Tito/g1

Economia brasileira cresceu 2,9% em 2022, mas 4º trimestre sinalizou que a trajetória aponta para baixo ao registrar queda de 0,2%.

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já começou com o peso de uma economia em desaceleração, como mostram os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) divulgados nesta quinta-feira (2) pelo IBGE.

O 4º trimestre de 2022 foi o primeiro a registrar queda em relação aos três meses anteriores desde o 2º trimestre de 2021. O recuo foi de 0,2% contra a janela passada.

Apesar de ser o único resultado no campo negativo do ano — que fechou com alta de 2,9% —, trata-se do desfecho de um processo de perda de força da atividade econômica, visto trimestre a trimestre.

Veja abaixo no gráfico.

Variação trimestral do PIB brasileiro  — Foto: Editoria de Arte/g1

Variação trimestral do PIB brasileiro — Foto: Editoria de Arte/g1

Lula tem, agora, o desafio de reverter o jogo e colocar o crescimento econômico de volta na pauta.

Há, contudo, uma junção de obstáculos a superar. Entre tantos outros, os principais: os juros altos — aqui e no mundo — que desaceleram a atividade, a falta de espaço no orçamento para estimular a economia e a falta de motor para o consumo com o alto endividamento da população.

Economistas ouvidas pelo g1 reconhecem algumas das medidas adotadas pelo novo governo como importantes para recuperar a atividade econômica, mas não veem resultados palpáveis no curto prazo para que a situação seja revertida ainda em 2023.

Resultado previsível

O primeiro semestre de 2022 teve resultados surpreendentes até mesmo para os mais otimistas. Como mostrou o g1 em setembro, a retomada forte dos serviços alavancou a economia por conta de um efeito da demanda represada pelo consumo no setor.

Além disso, houve ajuda de incentivos ao consumo, como a liberação emergencial do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas, o aumento para R$ 600 do antigo Auxílio Brasil, e a criação de um voucher para caminhoneiros e taxistas.

São efeitos que se esgotaram ao longo do ano e assim continuarão em 2023. Em uma frente, o “efeito reabertura” perdeu força. Em outra, não há mais espaço para um aumento de gastos como o que aconteceu em ano eleitoral, promovido pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.

“O consumo foi um grande componente do PIB em 2022 e é um segmento que pesa muito”, afirma Juliana Trece, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas.

“Como não teremos o mesmo nível de estímulos fiscais e as famílias estão endividadas, o consumo de produtos deve cair, principalmente dos mais caros.”

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), travou uma batalha pela reoneração da gasolina e etanol, pois não pode abrir mão das receitas como fez seu antecessor, Paulo Guedes.

Missão principal de Haddad, o déficit público previsto a ser combatido neste ano é de R$ 228 bilhões. Só com a reoneração de gasolina e etanol, a Fazenda espera arrecadar R$ 28,8 bilhões.

Para a Paula Magalhães, economista-chefe da A.C. Pastore, o governo precisa encontrar um caminho para equacionar o aumento de gastos de forma a recompor o orçamento do que estava subfinanciado enquanto cria uma regra que possa dar credibilidade à dívida pública no longo prazo — e tudo isso sem abrir mão da atividade econômica.

“Acho muito difícil o governo impedir uma desaceleração forte em 2023. Espero algo abaixo do que está hoje no Boletim Focus, que prevê alta de 0,8%. É improvável crescer neste patamar com os juros que temos hoje”, diz a economista.

Lula x BC

Magalhães reforça, porém, que pouco adianta para o governo exercer pressão para uma queda imediata da taxa de juros — ao menos quando o assunto é o resultado de crescimento de 2023.

“Mesmo que pudesse baixar hoje, sem perda de credibilidade e desancoragem da inflação, não teria tempo de fazer efeito neste ano. Só seria sentido adiante”, diz.

Como mostrou reportagem desta quinta-feira no g1, os seguidos aumentos da taxa básica de juros, a Selic, feitos pelo BC desde 2021 só começaram a trazer consequências mais fortes para a economia neste 4º trimestre de 2022.

Segundo economistas, há uma defasagem entre o ajuste da taxa de juros e seu efeito na atividade. O próprio presidente Lula foi desaconselhado por aliados a insistir em um enfrentamento com o BC.

Para Juliana Trece, do Ibre/FGV, já que há um esgotamento do estímulo ao consumo, é importante que o governo dê atenção a uma agenda de competitividade e estabilização do país, para atração de investimento doméstico e externo.

“Acho muito importante a pauta de reindustrialização que está na mesa, mas é preciso tomar cuidado para não desestabilizar novamente o mercado de crédito”, diz ela.

“É muito difícil dar estímulo fiscal à indústria, então o fiscal é menos importante. Além de ter uma produtividade mais alta, a indústria remunera melhor e tem um encadeamento na atividade econômica, tanto para trás, na cadeia de insumos, até perto dos serviços.”

Por Raphael Martins, g1

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