Desembargador Rotondano ao lado de Marina Garrido. Ambos estão próximos a mesa de livros doados./Foto: Divulgação
Já disse Jorge Luiz Borges “Sempre imaginei que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca”. Agora o Conjunto Penal da Comarca de Jequié conta com 165 novas obras literárias entregues pela Corregedoria Geral do Tribunal de Justiça da Bahia (CGJ/TJBA), através do projeto Virando a Página.
Para o Corregedor-Geral do TJBA, Desembargador José Edivaldo Rocha Rotondano, “somente a educação pode efetivamente melhorar a vida dessas pessoas”. Segundo ele, o Virando a Página mostra a Corregedoria buscando ideais e promovendo a ressocialização”.
Os livros eram de Marina Garrido, que se sentiu motivada a realizar a doação das obras após sua mãe mostrar-lhe uma matéria sobre o Projeto da Corregedoria. “Eu já queria doar e aí gostei da premissa de ler como parte da remição”, explica, acrescentando que ficou feliz em poder contribuir com o incentivo à leitura para as pessoas privadas de liberdade.
A entrega dos livros dos mais variados títulos foi feita na sexta-feira (5), durante a roda de leitura promovida pela CGJ no Conjunto Penal de Jequié, que debateu a obra “Anésia Cauaçu”. A discussão teve o diferencial de contar com a participação do próprio autor, Domingos Ailton.
“O livro trata sobre uma mulher à frente do seu tempo – Anésia Cauaçu -, a primeira a ingressar no cangaço e ser líder do bando”, conta o Escritor. Durante a trajetória de vida da personagem, ela chegou a ser presa, o que se assemelha à realidade dos participantes da roda de leitura.Participaram do evento, realizado no pátio do Conjunto Penal, e mediado pelo Professor Everaldo Carvalho, colaborador da CGJ, sete reeducandos, dentre eles, uma mulher, Jennifer, a primeira a participar do Projeto Virando a Página.
“A história nos mostra que temos oportunidade de recomeçar, independente dos nossos erros”, disse Jenifer. Ela e os colegas compartilharam suas interpretações sobre a obra – que utiliza fatos históricos na narrativa -, discutiram pontos abordados, como religião, política, vingança, guerra em Jequié, coronelismo e o paralelo com suas próprias realidades.
Ao final do debate, o Professor Everaldo pediu que cada leitor compartilhasse qual a mensagem que o livro deixa dentro de um ambiente de violência. Emocionado, o reeducando Huadson disse que “a mudança só depende de nós. Se queremos, conseguimos. Através da ressocialização, vamos sair daqui de cabeça erguida”.
De acordo com Everaldo, o Virando a Página em Jequié tem alguns pontos que merecem destaque, dentre eles o fato de que foi a “primeira unidade prisional de gestão plena onde foi realizada a roda de leitura e que a história do livro retrata a região local”.
Antes dos internos voltarem para as celas, o Escritor Domingos Ailton elogiou a maneira madura como discutiram o livro e contextualizaram com a realidade deles.
“A Cor Púrpura”, de Alice Walker; “Vidas Secas” de Graciliano Ramos; e “Humor com Amor”, da autora Macaria Andrade foram outros livros que o projeto Virando a Página já trouxe como pauta em rodas anteriores. As leituras foram realizadas, respectivamente, nos Conjuntos Penais da Vitória da Conquista, Salvador (durante um evento promovido pela CGJ) e Valença.
O próximo estabelecimento a receber o Projeto será o Conjunto Penal de Irecê, em junho.
A iniciativa é prioridade da gestão da CGJ neste ano e a intenção é que a Bahia figure como modelo a ser adotado nos demais estados, apresentando o Virando a Página como boa prática nos encontros promovido pelo Colégio Permanente de Corregedores Gerais do Brasil- CCOGE.
A Resolução 391/2021, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), determina que a pessoa privada de liberdade tem o direito de remir, isto é, diminuir, quatro dias de pena para cada obra literária lida, respeitado o limite de 12 livros por ano para este fim. Além deste benefício penal, a CGJ/BA compreende que a leitura e a educação, em sentido amplo, têm o poder de transformar o curso da vida do apenado, possibilitando a sua reinserção na sociedade.
Acompanharam a Roda de Leitura, além do Corregedor-Geral, a Juíza Assessora da Corregedoria Liz Rezende de Andrade; o Juiz da Vara de Execuções Penais de Jequié, Valnei Mota Alves de Souza; o Chefe de Gabinete da Corregedoria, Yuri Bezerra, o Superintendente de Ressocialização Sustentável da SEAP, Bacildes Azevedo Moraes Terceiro; o Diretor do Conjunto Penal de Jequié, Major PM João Henrique Rebouças da Cruz; professoras do estabelecimento penal, como Gilde Luana de Lima Silva, bem como professoras universitárias de Jequié, a exemplo de Luziêt Maria Fontenele Gomes.
Saiba mais sobre o projeto Virando a Página
Ascom TJ/BA
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