Garimpeiro candidato a deputado declarou R$ 4,5 mi em dinheiro vivo

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Foto: Victor Mariyama/The New York Times

Suspeito de exploração ilegal de ouro na Terra Indígena Yanomami (Roraima), o garimpeiro Rodrigo Martins de Mello declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 4,5 milhões em dinheiro vivo.

O garimpeiro atua para um grupo de empresas envolvidas no comércio ilegal de ouro extraído de terras indígenas que movimentaram, nos últimos anos, R$ 200 milhões.

Mello, mais conhecido como Rodrigo Cataratas, é líder do movimento Garimpo É Legal, que defende a legalização da atividade em terras indígenas. Ele tenta uma vaga na Câmara dos Deputados por Roraima, onde afirma ser dono da única lavra de mineração no estado.

Os valores constam na declaração de Cataratas ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Ele é candidato pelo PL, partido de Jair Bolsonaro, que também defende a flexibilização das leis de proteção e restrição à extração de ouro nas terras indígenas.

Piloto e empresário do ramo da aviação, ele declarou expressivo aumento de seu patrimônio nos últimos dez anos, período em que foi alvo de uma série de operações da Polícia Federal.

Para o pleito de 2022, Cataratas declarou um total de R$ 33,5 milhões em bens. Quando concorreu para vereador em 2012, ele afirmou ter R$ 1,3 milhão em patrimônio —R$ 1,1 milhão em capital investido e o restante em três veículos terrestres.

Questionado pela Folha, ele afirmou que vem sendo investigado desde 2007, mas que não responde por nenhuma ação penal por garimpo ilegal. Também disse que o dinheiro vivo que possui é apenas parte do seu patrimônio e que enriqueceu “a custo de muito suor e trabalho em todas as suas atividades empresariais, potencializadas com o início da atividade minerária.”

Em suas redes sociais, Cataratas postou fotos envolto na bandeira do Brasil, ao lado de Bolsonaro. Publicou ainda um vídeo de um helicóptero pedindo votos e recebeu apoio do senador Marcos do Val (Podemos).

Ele é crítico da destruição de equipamentos usados para o garimpo ilegal —prática empregada em ações das forças de segurança e fiscalização, mas que em junho foi proibida por uma lei estadual, apoiada pelo empresário.

A polícia aponta que o agora candidato é o responsável por fazer a logística para a extração de ouro e cassiterita.

Além disso, como mostrou a Folha, as empresas de Cataratas receberam R$ 124 milhões de dinheiro público, a maior parte (R$ 75 milhões) durante o governo Bolsonaro.

A sede das empresas de Cataratas, em Boa Vista, já foi alvo de ação de apreensão de helicópteros, feita em conjunto por PF, Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), em agosto de 2021.

Foram apreendidos nove helicópteros dessas mesmas empresas, das quais são sócios o piloto e seu filho —depois, uma juíza liberou parte das aeronaves e concordou com o pedido de habeas corpus impetrado por ele, que havia sido indiciado.

Segundo a PF, aeronaves em nome de empresas do grupo do qual ele é integrante são utilizadas para transportar pessoas, combustível e equipamentos a áreas de garimpo na terra Yanomami, como forma de concretizar a extração ilegal de minérios.

A maior parcela do patrimônio declarado por Cataratas ao TSE é, justamente, referente a aeronaves. Ele afirma ser dono de dez, sem especificar modelo ou mesmo se são helicópteros ou aviões. Elas somam um valor de mais de R$ 23 milhões.

Ele também é apontado como responsável pela empresa Tarp, que atua com táxi aéreo e recebeu R$ 29,1 milhões do governo federal para realizar transportes relacionados à saúde indígena.

A mesma empresa apareceu em outra investigação que mirou a empresa Gana Gold, cujo grupo empresarial movimentou R$ 16 bilhões nos últimos quatro anos.

A suspeita da PF é que a Gana Gold comprava ouro de Cataratas proveniente da Terra Indígena Yanomami e esquentava em uma mina localizada no Pará.

Ele também diz ser dono de imóveis, ações e quase R$ 90 mil em bens “relacionados com o exercício da atividade autônoma”.

Quando uma comitiva de parlamentares foi a Roraima para investigar desaparecimentos em uma aldeia Yanomami, Cataratas e o movimento Garimpo É Legal organizaram uma passeata contra eles nas ruas de Boa Vista.

O movimento também processou a liderança indígena Junior Hekurari por ter acusado garimpeiros de matar e cooptar yanomamis.

João Gabriel / Folha de São Paulo

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