União Brasil não será base de Lula, e governo precisa agilizar emendas ao baixo clero, diz líder do partido

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Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados

O líder da União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA), diz que o partido não tem condições de ser base aliada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Congresso, apesar de o Palácio do Planalto ter negociado mais cargos de segundo escalão com a legenda.

A União Brasil indicou três ministros no governo: Daniela Carneiro (Turismo), Juscelino Filho (Comunicação) e Waldez Góes (Integração). Ex-governador do Amapá, Waldez pediu licença da filiação do PDT. Além disso, a legenda deve ampliar espaço em estatais, como Codevasf, Dnocs e Sudene.

“[Por causa da] configuração do partido, não convém [entrar na base]. Imagine, eu dou uma declaração a vocês que sou base. Eu saio com 20 a 25 deputados me contestando. O que o governo vai ganhar com isso?”, afirmou Elmar.

Um dos principais representantes do centrão, Elmar diz que, para construir uma base no Congresso, o Palácio do Planalto precisa destravar a liberação de emendas. “O governo precisa dialogar e cumprir os compromissos. Principalmente fazer fluir o Orçamento.”

A União Brasil recebeu cargos. Ainda assim, o partido se declara independente. Por quê? Essa é a configuração do partido. É de conhecimento público, inclusive do governo, de que 90% do partido não tinham votado no Lula. Mas as urnas impuseram a ele ampliar o diálogo. Dois terços do partido topam conversar com o governo, e um terço não topa. Mas apoio de 60%, 70% do partido representa muito mais do que outros partidos que estavam na composição inicial, como PC do B, PSB.

Quantos votos a bancada [de 59 deputados] dará ao governo? Depende da pauta. Tem pauta que vai ter todos os votos. Tem pauta que não vai ter nenhum.

Nenhum voto, mesmo com esse espaço no governo? Eu não acredito que vai conseguir um voto aqui se for querer revisitar a reforma trabalhista. Pauta de costume, não avançamos no governo Bolsonaro, não vamos avançar agora.

O que o governo pede nessas negociações, se está ciente de que o partido não entrega todos os votos? O MDB vai entregar todos os votos? Não. Vai entregar um percentual, que é maior do que o nosso, mas, em número absoluto, teremos mais ou menos a mesma coisa. E o MDB foi mais bem contemplado do que a gente. O PSD também foi mais bem contemplado e vai entregar todos os votos? Não vai.

Por que mais bem contemplado? Eles têm três ministérios e nós não temos.

Como vocês não têm três ministérios? Eu posso considerar o Waldez como um membro do nosso partido?

Ele foi indicação do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). [Indicação] pessoal do Davi.

Mas que entra na cota do partido. Não. Não pode ser o governo que vai dizer o que entrou na nossa cota. Somos nós que temos que aceitar.

E vocês não aceitam o Waldez? Não posso reconhecer quem não é filiado ao partido, até porque eu vou estar desprestigiando os filiados. Eu tenho um mundo de filiados, 59 deputados e nove senadores, e nenhum serve, eu vou buscar fora do partido?

Se o governo der mais um ministério, o número de votos aumenta? A gente não vai brigar por cargo.

A articulação política do governo… Podiam não ter dado nenhum [ministério], não tinha problema. Agora, deu para um partido, tem que dar para os outros. Bolsonaro não deu ministério a ninguém, mas convidou três filiados nossos para ministérios importantíssimos. A gente era base por causa disso? Não. Quero dizer que não vai ser cargo que vai fazer isso. É importante chamar a gente para as políticas públicas, como conduzir o país na economia.

Mas o partido brigou para manter o Juscelino Filho no ministério. Não. Eu não briguei por ministro nenhum. Eu o defendi como defenderia qualquer um dos 59 da bancada do partido. Foi um deputado atacado de forma injusta.

O sr. acha que há fogo amigo dentro do governo? Há muito indício, né. Eu não posso declarar isso porque não tenho provas. Mas é claro que foi gente internamente vazando para querer queimar [o ministro]. Era um espaço que o PT tinha como deles. [O PT indicaria Paulo Teixeira para Comunicações]. De última hora, o governo tirou [para dar à União Brasil].

Se o governo tirar todos os cargos da União Brasil, vocês votariam com os mesmos cerca de 30 deputados? Olha, depois que você dá, tirar, complica. Mas a decisão não foi nossa, não foi a gente que pediu.

O governo manteve na presidência da Codevasf um aliado seu. Foi minha indicação no governo Bolsonaro, hoje ele é na verdade de todo mundo [da bancada da Câmara e Senado].

A União, além disso, poderá indicar duas das três diretorias da estatal. Isso não ajuda na relação com o governo? Ajuda.

Mas precisa de mais? Eu nunca pedi cargo e nem vou pedir.

Vocês também terão uma diretoria dos Correios? Isso o ministro [Juscelino que] indicou. Não passou por nós, não. O ministro é da União, mas não foi a bancada [que indicou].

O que mais ofereceram? A Sudene. O presidente [da União, Luciano] Bivar indicou. Eu não tinha ninguém. Ele é de Pernambuco. Sudene fica lá.

Mesmo assim, a União Brasil não vai entrar na base? [Por causa da] configuração do partido, não convém [entrar na base]. Imagine, eu dou uma declaração que sou base. Eu saio com 20 a 25 deputados me contestando. O que o governo vai ganhar com isso? O que eu vou ganhar com isso? Eu tenho que respeitar a peculiaridade da bancada que é majoritariamente governista, mas não é uma diferença [grande].

O deputado Arthur Lira alertou que o governo não tem base. Por quê? O governo precisa dialogar e cumprir os compromissos. Principalmente fazer fluir o Orçamento. [Na negociação de] cargo participa a cúpula nacional. Mas 80% do Congresso, que é o baixo clero, quer saber da execução orçamentária. Quer saber de levar o posto de saúde, a pavimentação.

O que tem que ser feito? Precisa dar agilidade [às emendas]. Por que todo mundo defende a permanência do presidente da Codevasf? Ele começou a fazer as coisas andarem, darem resultados. Os deputados e senadores começaram a colocar dinheiro lá. O orçamento era coisa de R$ 300 milhões, hoje é R$ 4 bilhões. Claro, quanto maior você é, vai ter muito problema. A imprensa faz umas coisas… como falar em cartel. Como é que você conduz qualquer tipo de cartel com pregão eletrônico? É aberto para todo mundo. O envelope só é aberto depois que saiu o resultado de quem foi o vencedor do pregão.

Mas também há suspeita de sobrepreço. Como fica a imagem do órgão e do Congresso? Eu não vi nenhuma denúncia comprovada até agora. Uma empresa que administra R$ 4 bilhões pode ter algum tipo de problema na ponta, de um asfalto que não é com a qualidade que deveria ser, mas para isso se tem a fiscalização.

Mas o Congresso hoje tem até mais emendas do que tinha com Bolsonaro. Qual o problema? Agilidade. Com o fim das emendas de relator, metade ficou em emenda impositiva e metade ficou para RP2 [recurso para ministérios]. E houve o acordo para o RP2 continuar a ser executado conforme indicação do Congresso, mas nos programas que o governo fosse apontando. Quanto mais ágil ele for e conseguir fazer rodar isso, mais ele vai ter uma vinculação de base.

Durante a transição de governo, o sr. foi cogitado para ser ministro. Até onde se sabe houve um veto do PT da Bahia ao seu nome. O que ocorreu? Ao longo da minha vida, cometi alguns erros. Esse foi um deles, permitir que meu nome fosse colocado. Se eu não tivesse permitido isso, a gente poderia ter tido uma condução melhor como tiveram o MDB e o PSD.

Mas qual é a sua avaliação sobre o veto? Isso virou a página, porque eu reconheço que eu errei. E a questão de eu ser adversário do PT na Bahia é público e notório e não vai mudar por causa disso.

Se o sr. for convidado para ser ministro numa reforma ministerial, o sr. iria? Nem [para a] Casa Civil. Nem Fazenda. Zero. Tenho uma missão na liderança da bancada.

Qual é? Ser presidente da Câmara? Não. A minha missão é defender os interesses da União Brasil. É tentar a federação [com o PP] e ter uma bancada ainda mais representativa.

O sr. confia nesse governo? Olha, eu acho que tem muita gente com boa vontade. E tem muita gente de extremo, com rancor. Se prevalecer as pessoas com boa vontade, o governo vai dar certo. Se não, eles vão pagar a conta disso.

Quem estaria nesse extremo? Eu prefiro falar dos bons. O Haddad [da Fazenda] está bem intencionado. O ministro da área política [Alexandre Padilha] tem o pior cargo que pode existir no mundo. Mas ele está tentando acertar.

O PT tem feito cobranças. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, disse que a União Brasil tem ministérios, mas não está entregando o apoio ao governo. Mas qual foi a votação que houve para dizer isso? A última votação que nós tivemos foi a PEC da Transição, eu fui o relator na Câmara e o senador Davi, no Senado. Se não fosse a gente, não tinha aprovado. Se alguém tem algum crédito aqui, somos nós.

RAIO-X
Elmar Nascimento, 52

É deputado federal desde 2015. Antes, foi vereador e deputado estadual na Bahia. É advogado. Líder da bancada de deputados da União Brasil e um dos parlamentares mais influentes no Congresso, relatou a PEC da Transição e a privatização da Eletrobras.

Thiago Resende e Julia Chaib/Folhapress

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