O professor Sandro Romilton define como “humilhante” o tratamento recebido pelo Governo de Pernambuco. Ele e a esposa, a dona de casa Lúcia Mota, saíram de Petrolina e chegaram ao Recife, na manhã de ontem (12), para acompanhar a coletiva de imprensa da Secretaria de Defesa Social, que prometeu detalhar a identificação do suspeito de assassinar a facadas uma das filhas do casal, a garota Beatriz Angélica Mota, em dezembro de 2015.
Sandro e Lucia foram impedidos de assistir à coletiva. Na tentativa de entrar no prédio da SDS, foram barrados. Após protestos, a mãe de Beatriz foi recebida pelo secretário Humberto Freire. “É humilhante você ser tratado dessa forma. Nós sempre colocamos à disposição dos delegados nossos telefones. Nessa hora importante, precisávamos ter um contato inicial, mas na verdade ficamos sabendo de tudo pela imprensa. É constrangedor e uma falta de respeito muito grande e até desumano”, desabafa Sandro.
“Tentamos contatar os delegados, e não conseguimos. No fim, quem atendeu foi o Nehemias [Falcão], chefe da Polícia Civil, confirmando que realmente eles tinham conseguido o DNA de um suspeito e que os delegados designados para o caso iriam nos retornar. Tivemos de vir ao Recife e saímos de madrugada. Quando chegamos no local marcado para atender a imprensa, infelizmente bateram com a porta na nossa cara. O trauma estava incompleto e a humilhação foi a cereja do bolo”, continua.
Em nota publicada ontem, a SDS informou que o autor do crime já estava preso e foi identificado por meio de análises do banco de perfis genéticos do Estado. Mais tarde, a TV Globo revelou que o suspeito se chama Marcelo da Silva, 40 anos, e que estava na cadeia pública de Salgueiro, no Sertão de Pernambuco.
Sandro Romilton cobra da Polícia Civil que o suspeito seja levado ao colégio onde ocorreu o assassinato: “É preciso que haja outras averiguações ter mais elementos que dificultem a soltura. Ele tem que estar na cena do crime. É muito frágil. Tememos que só com essa apresentação de hoje, o advogado de defesa imagine que possa liberar o suspeito com isso.”
“Desde o início, falamos que chaves desapareceram, acesso a portas somente pelo lado de dentro, luzes e imagens de câmeras que foram apagadas. Funcionários da escola que deram cinco depoimentos, divergentes um do outro. Queremos saber o envolvimento dos funcionários com essa pessoa. São muitos questionamentos”, prossegue.
No último dia 28, o governador Paulo Câmara (PSB) recebeu a família no Palácio do Campo das Princesas após Sandro e Lucinha caminharem por mais de 700 km de Petrolina até Recife. O pai de Beatriz diz que alertou a Polícia Civil e o governador sobre a importância de aprofundar a análise do DNA para chegar ao responsável pelo assassinato.
“Na conversa que nós tivemos, nós fomos muito didáticos e apresentamos a possibilidade de resolver o caso Beatriz. Foi a nossa família que abriu os olhos para o DNA e eles viram isso de trabalhar o DNA de forma adequada. Não foi uma novidade. Bastava a Polícia ter feito isso há bastante tempo”, revela.
Sandro critica coletiva e atuação da Polícia no caso Beatriz
Ao acessar o conteúdo da entrevista coletiva, o pai de Beatriz criticou as respostas dadas pelo secretário de Defesa Social, Humberto Freire: “Essa coletiva deixou mais dúvida. Ele levantou situações que deixam mais questionamentos.”
De acordo com Sandro Romilton, a família pediu para ter acesso aos três últimos volumes do inquérito, produzidos entre 2020 e 2021. Ele rebateu Freire sobre a quantidade de perfurações no corpo da garota. Na coletiva, o secretário chegou a afirmar que Beatriz foi esfaqueada dez vezes, e não 42, como era noticiado até hoje.
“Foi um verdadeiro show de horrores. Troca até a quantidade de perfurações. Há perícia feita, laudos e ninguém nunca questionou. Ele (Humberto Freire) não sabe nos dizer quem foi o delegado que fez a oitiva do suspeito que está preso nem quando foi feita”, comenta.
Sandro Romilton também criticou as declarações de Humberto Freire sobre não ter havido sabotagem no caso: “Ele demitiu os dois peritos que nós denunciamos. Na verdade, denunciamos mais pessoas e, no decorrer desses dias, novidades sairão. Outras pessoas vão perder essa cobertura.”
“Ele defendeu o Governo do Estado e tentou colocar a atuação da Polícia como de primeira qualidade. Nós que acompanhamos o caso há muito mais tempo do que ele sabemos de perto que a Polícia fez um trabalho que deixou muito a desejar, apesar de muitos profissionais que trabalham no caso serem pessoas honestas, de extrema confiança, mas que não tinham material adequado”, avalia.
Romilton endossa o desejo de Lucinha de federalizar o caso por considerar que várias respostas ainda precisam ser dadas pela Polícia Civil. “Queremos a federalização. Achamos agora, mais do que nunca, relevante a participação da Polícia Federal para que tudo seja esclarecido da melhor maneira possível”, conclui.
Por Houldine Nascimento, repórter do Blog Magno Martins